«A nossa excessiva dependência do que nos é exterior, além de ser sintoma de um mal-estar interior em busca de compensações, também nos torna incapazes de estabelecer relações autênticas. (...) Precisamos de atravessar o nosso território interior e nele descobrir a fonte da alegria. (...) A sede, saciamo-la nesta fonte que se nos oferece. Não busquemos fora o que jorra dentro de nós. Quem faz esta experiência dentro de si, aprende a gratuidade. (...) Há uma abundância interior que gera um grande desprendimento na relação com as coisas.» Carlos Maria Antunes, em "Só o Pobre se faz Pão"
Procuro o melhor de mim… o meu verdadeiro Rosto, o meu verdadeiro Nome, tal como sou conhecido e chamado por Deus no meu íntimo, a verdadeira identidade do meu Coração, que até a Deus encanta…
Procuro a capacidade de acreditar em mim como Deus acredita, de me ver como Ele me vê a ponto de descobrir dentro de mim maravilhas, possibilidades, fortalezas e belezas que nem imaginava que me habitassem…
"Não é o mesmo ‘dar’ e ‘dar-se.’ (….) Dar-se é colocar-se a própria pessoa, por completo e sem condições, à disposição de alguém, dos outros, de uma causa, de um projeto… Com frequência, como não estamos dispostos a dar-nos a nós mesmos aos outros, damos coisas…"
José Maria Castillo, “La Religión de Jesús – Comentarios al Evangelio”, Desclée de Brouwer Bilbao (Espanha), 2010
«Só um coração iluminado pode reparar nas muitas flores que se encontram nos caminhos que percorremos todos os dias, porque um coração iluminado sabe, por experiência própria, que nos alicerces da alegria está o que é frágil, o que não conta, o que de algum modo é marginal, o que não é da ordem do necessário, mas do gratuito.
Quando vivemos radicados no coração, os nossos dias tão iguais podem transformar-se na mais bela oração: «Vela com todo o cuidado sobre o teu coração, porque dele jorram as fontes da vida.» (Pr 4,23)
Não se caminha quando não se acredita. Não se estende a mão quando não se ama. Não se muda quando nada se espera.
André Malraux foi claro: «A força da revolução é a esperança».
Não precisa de disparar tiros nem de gritar frases fortes. A maior revolução é feita de paciência. Não cuida apenas dos resultados. Nunca descuida as raízes nem desperdiça os alicerces. A revolução da esperança está em marcha. Embora não pareça. Sobretudo porque não parece.
O essencial não se vê. Mas o essencial está a emergir!
No filme Gandhi, de Richard Attenborough, há, quase no final, uma cena de grande força espiritual, só protagonizável por pessoas que pairam acima das diferenças políticas, sociais ou religiosas. Gandhi estava entregue a um rigoroso jejum, já muito debilitado, quase a morrer, pois não aceitava que a Índia, ao libertar-se dos ingleses, se dividisse entre hindus e muçulmanos. (Na verdade, ele viria a ser assassinado, pouco depois, por um separatista).
Estava deitado no seu colchão, quando se apresentou um hindu que lhe disse merecer o inferno. Gandhi perguntou-lhe: - Porque falas assim? Que fizeste? - Matei uma criança muçulmana, confessou envergonhado. - Por que razão? - Porque eles também mataram o meu filho.
Gandhi, então, ensinou-lhe com extrema doçura: - Há uma porta de saída do inferno: a de tolerância, a do perdão, a da boa convivência. Agora, vai e adopta uma criança muçulmana e não tentes mudar as suas convicções religiosas. Deixa-a viver como muçulmana.