quinta-feira, 12 de julho de 2007

Medos - Parte II

Mas o mundo não quer que estas coisas se digam muito alto… Não, porque isto põe tudo em causa, e depois começa tudo a transformar-se, tranquilidades a desmoronar-se e rotinas a perder-se. E o mundo tem muito medo que isto tudo aconteça…O que se ouve gritar e repetir nos altifalantes do mundo faz da vida uma carreira, da felicidade uma tranquilidade sem sabor e uma alegria sem sentido. De tal maneira, que ao fim de cada dia quase apetece ir espreitar nas janelas das casas e atirar a pergunta que vi uma vez escrita numa parede da cidade: “Então, foste um bom robot hoje?”Mas nem me responderiam… O que estivessem nesse momento a ver na televisão seria para eles muito mais importante. Pelo menos, a televisão não faz este tipo de perguntas nem põe em causa o sentido da vida e o sabor dos dias. E tudo isto se entende, porque nas entrelinhas de tantas palavras, luzes e movimentos das nossas cidades, serpenteia a palavra “medo”…
Uma das invenções mais recentes da humanidade são as fechaduras. Durante milénios havia apenas trancas nas portas, que qualquer um podia abrir. Foram já os nossos bisavôs e avós que inventaram as fechaduras com chave. Mas ainda não chegava de segurança… Por isso, os nossos pais inventaram as portas blindadas e os vidros inquebráveis… Depois, nós especializámo-nos em sistemas de vigilância e segurança que utilizam as mais complexas técnicas descobertas, desde circuitos fechados de vídeo a detectores de movimento, sensores infravermelhos… e tudo o resto que serene tantos medos…

O pior é que nesta história recente de fechar as portas, também o coração se tem ressentido… Fechamos as portas de casa aos imprevistos da rua, e fechamos as portas do coração aos imprevistos da vida. Tudo em nome da segurança…Mas não é com seguranças que se constrói uma vida feliz; é com opções arrojadas, riscos, iniciativas, enganos e recomeços.Vou dizer-te um segredo: o medo é o que de mais autodestrutivo podes ter ao alcance do coração. Não te deixes vencer! Mas resiste também à tentação de lhe fugir. Ele perseguir-te-á incansavelmente. Só se vence o que se olha nos olhos e se combate de frente, cara a cara, de peito aberto e pés ao caminho. Força! Só assim vale a pena viver: lutando! Construindo, arriscando, descobrindo, inovando, corrigindo… só assim vale a pena. E não temos outra oportunidade.
Também sei que aleija de vez em quando.Também sei que há passos que se dão e deixam algum rasto de sangue atrás. Sim, também sei… Mas, mesmo assim, juro-te que só vale a pena viver se estivermos dispostos a sangrar!Ainda me lembro das vezes sem conta em que rasguei os joelhos para aprender a andar de bicicleta. Num deles ainda tenho as marcas. E já lá vão uns anos… Mas valeu a pena! Uns anos depois de tantos tombos, pude saborear longos passeios entre os pinhais na aldeia dos meus avós, a pedalar na minha bicicleta. E lembro-me como ia ao fim das tardes de verão tomar um banho ao rio, e voltava em caminhos de terra batida que contornavam pedras e arbustos dos que não se encontram nas cidades. E muitas outras lembranças, e muitos outros sabores dos meus longos passeios de bicicleta… Mas, para isso, ainda tenho num joelho as marcas de tantas quedas. Sabes o que te digo? Valeu a pena!!!E na vida também é assim… (continua)

Rui Santiago cssr

Jovens Redentoristas

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