quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A GRANDEZA DO SER HUMANO

"A grandeza do ser humano, a sua verdadeira riqueza, não está naquilo que se vê, mas naquilo que traz no coração.
A grandeza do homem está naquilo que lhe resta precisamente quando tudo o que lhe dava algum brilho exterior, se apaga. E que lhe resta? Os seus recursos interiores e nada mais." (Etty Hillesum, in Diário 1941-1943)
Escrevendo a partir de Westerbork - o campo onde foram reunidos os Judeus da Holanda enquanto aguardavam a partida para os campos de extermínio -, Etty Hillesum, também desse número, escreve estas linhas absolutamente humanas:
«Entre aqueles que acabam por vir parar a este árido pedaço de charneca de quinhentos metros de largura por seiscentos de comprimento, encontram-se também vedetas da vida política e cultural das grandes cidades. Em seu redor, as decorações teatrais que os protegiam foram subitamente arrancadas por uma formidável vassourada e eles aí estão, trémulos e desorientados, neste palco agreste e aberto aos quatro ventos que se chama Westerbork. Arrancados ao seu contexto, os seus rostos estão ainda visivelmente aureolados pela atmosfera da vida movimentada que levavam numa sociedade mais complexa do que esta.
Caminham ao longo do arame farpado e as suas silhuetas fragilizadas recortam-se, em tamanho real, sobre a imensa planura do céu. É preciso tê-los visto caminhar assim...
A forte armadura que lhes tinham forjado a posição social, a fama e a fortuna, desfez-se em bocados, só lhes deixando, por único vestuário, a fina camisa da sua humanidade. Encontram-se num espaço vazio, unicamente delimitado pelo céu e pela terra, e ser-lhes-á preciso mobilá-lo com os seus próprios recursos interiores - nada mais lhes resta.»
Etty Hillesum, in Diário 1941-1943



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