Dar-se-sem-se-dar: brincar ao amor sem se comprometer. Tocar sem se deixar afectar, sem perder as suas seguranças. Os homens querem deixar sempre livre o caminho de regresso. Então dão-se mas não se dão. Querem ter a sensação de que amam mas sem correr nenhum risco pessoal.
Fazer-coisas-em-vez-de-estar: Pensar que o amor se pode trocar por fazer coisas, não entender que consiste sobretudo em estar presente... O amor não consiste em horas, nem em cânticos, nem em roupas, nem em sorrisos, nem em reuniões, nem em nada do que se possa fazer por fora. O amor consiste em dar-se a si mesmo e para isso é preciso ter tempo para estar com o outro, ter tempo para simplesmente estar.
Dar-a-mão-sem-se-abaixar: Pensar que se pode amar sem se abaixar, sem ficar a perder. Mas amar é aceitar chegar a perder para que o outro fique a ganhar. Amar é quebrar a linha que nos mantém sempre por cima, na nossa auto-suficiência.
Dar-para-se-preencher: Procurar uma outra pessoa para tapar os seus próprios buracos. Só pode amar quem aceita viver a sua própria solidão e sabe que não precisa do outro para sobreviver. A solidão não é o contrário do amor - como os homens muitas vezes pensam -, é o seu alicerce escondido. O verdadeiro amor alimenta a independência. Quem deixa de ser quem é não pode amar. O amor não te faz ser outro, diferente de ti, faz-te ser o melhor de ti próprio.
Vender-se-para-agradar: Os homens, para agradar àqueles que dizem amar, são capazes de empenhar o que têm de mais sagrado. Vendem os seus ideais, comportam-se como se não fossem eles, tornam-se incapazes de dizer o que realmente pensam, relativizam aquilo em que realmente acreditam para não perderem o outro.
Manipular-o-outro-para-não-o-perder (esta é a maior das tentações): seduzir o outro de forma a que ele não possa recusar o amor, a que não possa viver sem nós, e fique convencido de que já não é ninguém sem esse amor…
Nuno Tovar de Lemos, em "O Príncipe e a Lavadeira" (adaptado)
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