sexta-feira, 27 de março de 2009

EM QUEM NUNCA NINGUÉM REPARA...

" J., a quem muitos chamavam "menina" mesmo quando já tinha sessenta anos, trabalhava como bibliotecária num centro cultural, a encapar com plástico pesados livros de arte que nenhum leitor vinha requisitar. Os seus gostos, temperamento e cor dos vestidos, tudo nela parecia frágil e um pouco antiquado, como uma aguarela em que a cor rosa dominasse.
Doçura e benevolência cercavam os olhos daquela que, por nunca ter causado mal, terá atravessado esta vida na ponta dos pés sem que ninguém a visse, não fazendo a sua morte mais barulho que neve a cair sobre neve.

Talvez o mundo seja continuamente preservado do aniquilamento para que tende por seres assim, em quem nunca ninguém repara."

(Christian Bobin, em "Ressuscitar")

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