«No tempo em que vivemos, o sucesso imperioso tornou-se a nossa cruz, passou a determinar o nosso enconto com os outros. Junto com uma insaciável necessidade de louvores e confirmação da nossa superioridade em relação ao comum dos mortais, carregamos o medo aflitivo de falhar.
Que importam os nossos sentimentos? Que importa a nossa capacidade de rir, de brincar, de termos um gesto de ternura, de nos emocionarmos? Que importa a nossa vontade de afagar um animal ou de cuidar de uma planta? Que importa a satisfação que nos dá apanhar amoras num silvado ou uma pena que voou ao nosso encontro?
Nada disso conta para a nossa avaliação.
Só pelo sucesso somos medidos, ainda que muitas vezes ele assente no esforço ou, pior ainda, no fracasso alheio.
E se voltássemos ao princípio de nós? E se nos atrevêssemos a ser o que verdadeiramente somos, acreditando que pode haver quem nos ame mesmo assim?
Se Deus nos quisesse perfeitos, tinha-nos feito perfeitos, mas preferiu criar seres em movimento, à procura da perfeição. Da nossa e da alheia.»
(Henrique Manuel, em "Mas Há Sinais...")
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