sábado, 13 de julho de 2013

AO AMIGO, COM AFETO

Que a tua caminhada seja serena
como o ribeiro que se espreme entre rochas. 
Deixa-te evaporar no tempo como o hálito que manchou o espelho. 
Sê discreto como o sal que temperou a carne. 
Sê transparente como a luz que ilumina o céu.

Desejo que te mantenhas sensível em tuas decepções.
Deixa-te ferir com o sofrimento mais longínquo.
Considera a miséria um demônio;
a injustiça, uma deusa sanguinária
e a indiferença, um inferno.

Não te intimides em transformar-te em poeta.
Converte a tua dor em verso,
e que o teu cantarolar desafogue,
com beleza, a indignação que te abate.

Desobriga-te de suprir qualquer expectativa.
Não te sintas lisonjeado e nem te enganes com o aplauso da multidão.
A mão que te afaga hoje poderá apedrejar-te amanhã.

Que aprendas a bordar esperança na escuridão da madrugada
e que os anseios tecidos nas trevas virem ações no raiar do dia.
Guarda os teus sonhos para os amigos mais íntimos.
Para quê dizê-los a quem não respeitaria a imensidão de teu inconsciente?

Transita pela sombra.
Foge das luzes da ribalta.
Resguarda-te.
Se tens que seguir pela avenida, fá-lo com discrição.
Constrói-te em segredo.

Desejo que a tua espiritualidade seja suave como o balançar de uma folha na calmaria do outono;
e o teu silêncio, reverente como uma prece.
Torna-te um com o teu próximo para encontrares lugar na mesa do banquete universal.
Logo todos voltaremos ao mesmo nada que antecedeu o dia em que nascemos.
Que a tua memória seja doce no coração dos que te sobreviverem e eterna no coração de Deus.


Texto adaptado do "Ao amigo, com afeto" de Ricardo Gondim -http://www.ricardogondim.com.br/poemas/a-amigo-com-afeto/

Sem comentários: