"Há um tempo para tudo.
E inclusive, um tempo para aquilo que não gostamos, não queremos ou não compreendemos. (…)
Como há um tempo para tudo, há dentro deste tempo um tempo de ser nada. Um tempo de não perceber nada do que se passa, de tudo parecer estranho. De por momentos parecer que vivemos num outro mundo.
Na expressão “só sei que nada sei” não é nada sei que nos inquieta, mas sim o só sei (que nada sei).
Queremos saber tudo, controlar tudo. Mas o comando não é nosso. E inclusive quando nos é dado comandar e fazer e ser aquilo que podemos ser, esquivamo-nos dessa oportunidade única. (…)
Este tempo talvez nos inquiete a todos, ou só alguns, porque nos coloca nus. E na vida, queremos sempre estar bem vestidos. (…)
É a vida. Tenho tido um certo gosto em usar esta expressão, de certa forma banalizada, de definir de forma crua a vida. É ela, no seu estado natural. Assim como nós. Nus e desprotegidos. (…)
Acredito que esta possa ser a pergunta de muitos. Porquê? Quando é que isto irá acabar? Porquê esta injustiça de vida? Que tempo é este?
E acredito que a melhor resposta poderá ser "este é o meu tempo". Este é o tempo que me calhou viver. Este é o tempo que me coloca as perguntas que hoje vivo. Este é o tempo onde posso crescer e aprender ou optar por fechar-me ainda mais em mim.
As notícias fazem a realidade e no entanto a realidade é tanto mais. Se uma doença é notícia todos os dias, o mundo passa a ser essa doença. Os meus olhos deixam de olhar outras direcções e de ver a vida além disso. Se as notícias fazem a realidade que notícias quero espalhar?
Que tempo é este? Não é mau, nem é bom. Este é o meu tempo. E que eu o saiba viver, porque esta é a minha vez.
Há um tempo para tudo… tempo para destruir e tempo para edificar. Tempo para chorar e tempo para rir, tempo para se lamentar e tempo para dançar. Tempo para abraçar e tempo para evitar o abraço…
Somos ciclos, somos um ciclo Vida/Morte/Vida. A vida é este ciclo. Nos nossos dias estão constantemente a nascer e a morrer pensamentos, situações, emoções, acções, relações. E uma vez mais isto reforça a importância de compreendermos a vida como um ciclo de Nascer-Morrer-(Re)-Nascer, para vivermos com maior paz e nos sentirmos mais plenos e serenos em cada fase, ciclo ou tempo que nos é apresentado para viver.
Como há um tempo para confinar, há-de chegar também o momento de desconfinar. E a seguir a um momento de isolamento vem um momento de tornar tudo mais vasto e abrangente. Ajuda-nos saber que sempre que há o fim de algo, haverá necessariamente um começo, e precisamos desta confiança.
Há um tempo para tudo…"
Ana Ascensão, in CONVERSAS DESCONFInADOS