O «eu» é uma ilusão, uma ficção que nos seduz, uma mentira que exerce sobre o homem uma tirania cruel: está triste porque a sua imagem perdeu o brilho.
Parece abatido porque a sua popularidade caiu. Vai caindo na depressão porque o seu prestígio se despedaçou. O seu «eu» (identidade pessoal) permanece inalterável. É sua imagem («eu») que sobe ou desce. E, no vaivém dos aplausos ou vaias, sobem e descem as suas euforias e depressões. Como se vê, o «eu» rouba ao homem a paz e a alegria.
Vive obcecado por ficar bem, por causar boa impressão; está sempre ansioso em saber o que pensam dele, o que dizem dele, e, nos ziguezagues desses altos e baixos, o homem sofre, teme, emociona-se.
A vaidade e o egoísmo amarram o homem a uma dolorosa e inquietante existência.
Pior ainda: o «eu» coloca o homem num campo de batalha. Ataca e fere os que brilham mais do que ele no fragor das invejas, vinganças e rixas, que são as armas com que defende a sua imagem. E assim nascem as guerras fratricidas, desencadeadas em nome de uma mentira, de uma louca quimera, de um fogo-fátuo.
Ignacio Larrañaga, em "A Rosa e o Fogo"
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