terça-feira, 30 de julho de 2013

COMO CONSEGUI CHEGAR TÃO LONGE?



Como consegui chegar tão longe?

(E sempre em sendas tão escuras?)
Devo ter viajado pela luz
Brilhando nas faces de todos os que amei.




Thomas McGrath, «Poem», in Selected Poems:1938-1988

domingo, 28 de julho de 2013

O POETA BEIJA TUDO




O poeta beija tudo, graças a Deus... 
E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade... 
E diz assim: "É preciso saber olhar..." 
E pode ser, em qualquer idade, ingénuo como as crianças, 
entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos... 
E levanta uma pedra escura e áspera 
para mostrar uma flor que está por detrás... 
E perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha... 
E comove-se com coisas de nada: um pássaro que canta, 
uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, 
um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, 
um bocadinho de sol depois de um dia chuvoso... 
E acha que tudo é importante... 
E pega no braço dos homens que estavam tristes 
e vai passear com eles para o jardim... 
E reparou que os homens estavam tristes... 
E escreveu uns versos que começam desta maneira:
“O segredo é amar...”

Sebastião da Gama (1924-1952)

sábado, 20 de julho de 2013

BUSCO A DOÇURA PROFUNDA




Busco a doçura profunda,
a que nunca ninguém viu,
e cuja existência não pode ser posta em causa,
pois é a ela que devemos a beleza perfumada dos jacintos,
a luz nos olhos espantados dos animais e tudo o que,
sobre a terra e nos livros,
há de bom

Christian Bobin, em "Ressuscitar"

quinta-feira, 18 de julho de 2013

HÁ MULHERES...




Há mulheres que trazem o mar nos olhos

Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os Homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes
e calma


Sophia de Mello Breyner Andresen


segunda-feira, 15 de julho de 2013

sábado, 13 de julho de 2013

AO AMIGO, COM AFETO

Que a tua caminhada seja serena
como o ribeiro que se espreme entre rochas. 
Deixa-te evaporar no tempo como o hálito que manchou o espelho. 
Sê discreto como o sal que temperou a carne. 
Sê transparente como a luz que ilumina o céu.

Desejo que te mantenhas sensível em tuas decepções.
Deixa-te ferir com o sofrimento mais longínquo.
Considera a miséria um demônio;
a injustiça, uma deusa sanguinária
e a indiferença, um inferno.

Não te intimides em transformar-te em poeta.
Converte a tua dor em verso,
e que o teu cantarolar desafogue,
com beleza, a indignação que te abate.

Desobriga-te de suprir qualquer expectativa.
Não te sintas lisonjeado e nem te enganes com o aplauso da multidão.
A mão que te afaga hoje poderá apedrejar-te amanhã.

Que aprendas a bordar esperança na escuridão da madrugada
e que os anseios tecidos nas trevas virem ações no raiar do dia.
Guarda os teus sonhos para os amigos mais íntimos.
Para quê dizê-los a quem não respeitaria a imensidão de teu inconsciente?

Transita pela sombra.
Foge das luzes da ribalta.
Resguarda-te.
Se tens que seguir pela avenida, fá-lo com discrição.
Constrói-te em segredo.

Desejo que a tua espiritualidade seja suave como o balançar de uma folha na calmaria do outono;
e o teu silêncio, reverente como uma prece.
Torna-te um com o teu próximo para encontrares lugar na mesa do banquete universal.
Logo todos voltaremos ao mesmo nada que antecedeu o dia em que nascemos.
Que a tua memória seja doce no coração dos que te sobreviverem e eterna no coração de Deus.


Texto adaptado do "Ao amigo, com afeto" de Ricardo Gondim -http://www.ricardogondim.com.br/poemas/a-amigo-com-afeto/

sábado, 6 de julho de 2013

FERIDAS PATERNAS...FERIDAS MATERNAS


«Uma árvore só pode crescer e desenvolver uma copa quando tem raízes profundas. Os pais representam nossas raízes. Mesmo que nos tenham ferido, eles ainda constituem as raízes que nos nutrem. Por isso, faz pouco sentido que o filho corte fora as raízes da sua mãe. Ele ficaria sem raízes, e sua árvore secaria. Mas a árvore do filho não deve crescer junto com a da mãe. A simbiose com a mãe tiraria o espaço da sua árvore, de que ele precisa para se desenvolver. Só fica adulto quem pode se delimitar em relação à mãe, quem pode falar com ela sem se sentir dominado, quem pode lidar com ela sem se adaptar o tempo todo». 

Anselm Grün, em "O pequeno livro da verdadeira felicidade"

quinta-feira, 4 de julho de 2013

REDESCOBRIR O NÃO


«Palavra pequena, mas talvez seja a palavra mais necessária. É uma palavra não só para dizer com os lábios, mas para pronunciar com a vida.

Hoje em dia, há que redescobrir o valor do «não». Não a tanta coisa supérflua, não a tanta coisa violenta.

José Saramago anui: «A palavra mais necessária nos tempos em que vivemos é a palavra não. Não a muita coisa, não a uma quantidade de coisas que eu me dispenso de enumerar»

http://theosfera.blogs.sapo.pt/1904098.html

terça-feira, 2 de julho de 2013

A «MORTE» DA JANELA



Partilho uma pertinente e interessante reflexão sobre as mudanças que as novas e «velhas» tecnologias operam nas nossas vidas. 


«A tecnologia tem o raro sortilégio de operar mudanças e de nos arrastar por elas quase sem nos apercebermos.

Com os novos tempos, estamos perto do longe. Mas, em contrapartida, sentimo-nos cada vez mais longe do perto.

Substituímos a janela pelo ecrã. Já dizia Nélson Rodrigues, esse pronto-a-pensar insaciável, que «a televisão matou a janela».

É importante olhar o mundo. Mas é necessário não deixar de olhar para a rua, para o vizinho, para o rosto caído, para a lágrima furtiva, para o sorriso rasgado.

Quem está disposto a sentir em si a alma dos outros?
»

Fonte: http://theosfera.blogs.sapo.pt/1967146.html