terça-feira, 28 de setembro de 2010

HÁ ALMAS...

"Tudo o que sei do céu me vem do espanto que experimento perante a bondade inexplicável desta ou daquela pessoa, à luz de uma palavra ou de um gesto tão puros que me revelam bruscamente que nada no mundo poderia ser a sua origem. (...)

Há almas nas quais Deus vive sem que elas disso se apercebam.
Nada deixa supor essa presença sobrenatural, senão a grande naturalidade que inspira aos gestos e às palavras daqueles em que habita."

Christian Bobin, em "Ressuscitar"

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

AMAR A DEUS

«AMARÁS O ETERNO, TEU DEUS» : Este mandamento intrigou os pensadores ao longo dos tempos.

Se o amor é um sentimento, uma emoção que escapa ao controlo do homem, como pode ser o objecto de um preceito da Tora? Como é que se podem ditar sentimentos? O mandamento amar parece ser paradoxal.

Pode responder-se que o próprio facto de a Tora prescerver amar o Eterno indica que o homem possui de modo inerente o amor inato por Deus. Este amor, que repousa nos recessos da alma, deve ser despertado e actualizado.

É este processo de despertar que constitui o mandamento de amar, o qual significa de facto. «Faz tudo o que estiver ao teu alcance para despertares o teu amor latente por Deus.»

Sefat Emet

terça-feira, 21 de setembro de 2010

DAR ESPAÇO À ALMA

"No lugar onde uma pessoa foi muito magoada na sua infância, formam-se pontos sensíveis. E estes pontos sensíveis são a porta para as ofensas. Para que não adoeçamos recorrentemente, é importante que nos reconciliemos com as nossas feridas e nos aceitemos com os nossos pontos sensíveis.(...)

Se estivermos completamente no nosso meio e em harmonia connosco próprios, os outros não nos conseguem magoar tão facilmente. É verdade que ouvimos as palavras ofensivas, mas elas não nos atingem em profundidade.(...)

Salutar para a alma é o facto de se saber amada e de também se amar a si mesma, juntamente com tudo aquilo que nela existe. E é também salutar que a alma possa respirar. Há muitas pessoas que não estão em contacto com a sua alma. Vivem apenas à superfície. Esta separação da alma torna-as doentes. Só quando obtemos o acesso interior à alma é que ela pode renascer e desenvolver-se. A alma precisa de alimento.

Por um lado, é o amor que faz bem à alma, mas também a actividade espiritual. Muitas pessoas adoecem porque não dão espaço à alma. A alma precisa de asas, de agilidade, de amplitude. Aquele que restringe o espaço à alma está a retirar-lhe força.

Anselm Grün, em "O Livro das Respostas"

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

FALTA DE AMOR

"O maior perigo que ronda o ser humano consiste na falta de amor e nas consequências que esta falta acarreta.
Quem não se sente amado rejeita-se a si mesmo, condena-se, torna-se duro, frio e vazio, é incapaz de amar a si mesmo e aos outros.
Torna-se necessário, então, um amor que não se poupa, que não recua nem mesmo diante da própria morte para curar-nos da ferida mortal da falta de amor."

Anselm Grün, em "Jesus - Porta para a Vida"

terça-feira, 14 de setembro de 2010

MORAR NA CASA DO AMOR

"Esta é uma imagem muito particular para o amor. Ele não é somente um sentimento que logo desaparece, mas um espaço no qual se pode permanecer. Não obstante, Jesus também indica a condição para a permanência neste amor: "Se vocês seguirem meus mandamentos, permanecerão no meu amor" (Jo 15,10).

Não podemos desfrutar sozinhos do amor de Deus, mas precisamos deixá-lo fluir para outras pessoas. Caso contrário ele é interrompido, acabando seu espaço de ação. O amor de Jesus não retém, como muitas vezes nosso amor o faz; ele doa. Por um amor assim, que liberta e entrega, que por nós morre e se dá sem limites, aspiramos na profundeza de nosso coração.

Diante do Cristo crucificado sentimos que somos incapazes de amar de verdade. Nosso amor muitas vezes se mistura com o desejo de "ter o outro para nós", de possuí-lo. Queremos segurá-lo para que jamais nos abandone, não percebendo como lhe tiramos o ar de que precisa para respirar, como lhe roubamos a possibilidade de continuar se desenvolvendo, a fim de que possa se tornar ele mesmo. Queremos, muitas vezes, moldar a pessoa amada e coagi-la a entrar na forma que nos parece mais aprazível.

O gesto da cruz expressa o contrário: é um amor que nos permite ser livres; que nos convida a deixarmos ser abraçados, mas que também nos deixa soltos para trilhar nosso próprio caminho em liberdade."

Anselm Grün, em "Abra seu coração para o amor"

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O DOM DA SOLIDÃO

"O nosso mundo vive cheio de solidão negativa, sem perceber nem aceitar esse dom, essa necessidade, de estar só para poder recolher-se e organizar-se, para poder dar e dar-se.

Oferece-nos, pelo contrário, dois alibis, para enganar a solidão: o trabalho e o divertimento. A ocupação e a satisfação talvez nos façam esquecer, mas deixam-nos cada vez mais longe de nós mesmos e dos outros."

Vasco Pinto de Magalhães, s.j. in "Não há soluções, há caminhos"

terça-feira, 7 de setembro de 2010

AS PESSOAS SÃO COMO OS ENVELOPES

«As pessoas e os encontros, por vezes, são como os envelopes bem endereçados que recebemos. Sabe-se o nome e a morada, mas não se sabe o que vem lá dentro. Será uma conta a pagar, um convite, um folheto de publicidade? Será uma cunha, umas boas festas? É que o envelope rasga-se e depois vê-se o que vem lá dentro.
As intenções do coração vêm sempre ao de cima, não há máscara que lhes resista...»

Vasco Pinto de Magalhães, in 'Não Há Soluções, Há Caminhos'

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

DEUS ENTRE AS PESSOAS

«Quando perguntavam a Martin Buber - o grande filósofo e teólogo judeu - "Onde Deus está?", ele foi suficientemente esperto para não dar a resposta estereotipada: Deus está em toda parte, Deus é encontrado nas igrejas e sinagogas.

Buber respondia que Deus está nos relacionamentos. Deus não é encontrado nas pessoas, mas entre as pessoas. Quando duas pessoas estão verdadeiramente em sintonia uma com a outra, Deus se aproxima e preenche o espaço entre elas para que fiquem unidas.

Tanto o amor quanto a verdadeira amizade são mais do que apenas uma forma de saber que somos importantes para alguém. Eles são uma maneira de levar Deus para um mundo que, de outro modo, seria um vale de egoísmo e solidão.» Harold Kushner