segunda-feira, 30 de março de 2009

O PERDÃO LIBERTA!

«Mesmo quando o coração nos acusa, Deus é maior que o nosso coração e conhece tudo.» (João 3, 20).

Em nenhum caso Deus atormenta a consciência humana.
Deus coloca o nosso passado no coração de Cristo e há-de cuidar do nosso futuro. (...)

Deus vem revestir-nos da sua compaixão.
Com os fios do seu perdão,
Ele tece a nossa vida e faz dela uma veste resplandecente.

Saber que o seu perdão é sempre dado significa descobrir uma das mais generosas realidades do Evangelho.
E isso liberta-nos, incomparavelmente.

(Irmão Roger, de Taizé, em "Deus só pode amar")

sexta-feira, 27 de março de 2009

EM QUEM NUNCA NINGUÉM REPARA...

" J., a quem muitos chamavam "menina" mesmo quando já tinha sessenta anos, trabalhava como bibliotecária num centro cultural, a encapar com plástico pesados livros de arte que nenhum leitor vinha requisitar. Os seus gostos, temperamento e cor dos vestidos, tudo nela parecia frágil e um pouco antiquado, como uma aguarela em que a cor rosa dominasse.
Doçura e benevolência cercavam os olhos daquela que, por nunca ter causado mal, terá atravessado esta vida na ponta dos pés sem que ninguém a visse, não fazendo a sua morte mais barulho que neve a cair sobre neve.

Talvez o mundo seja continuamente preservado do aniquilamento para que tende por seres assim, em quem nunca ninguém repara."

(Christian Bobin, em "Ressuscitar")

quinta-feira, 26 de março de 2009

LUZ QUE BRILHA NA NOITE


«Uma confiança em Deus não se comunica com argumentos que, procurando convencer o outro a todo o custo, suscitam inquietação e medo. É antes de mais no coração, nas nossas profundezas, que recebemos o chamamento do Evangelho.(...)

Pode acontecer, surpreendentemente, que cheguemos a dizer:«Jesus ressuscitado estava em mim e eu não sentia nada da sua presença. Procurei-O muitas vezes noutros sítios. Enquanto fugia das fontes por Ele depositadas no mais profundo do meu ser, podia ir longe, muito longe, mas perdia-me em caminhos sem saída. Parecia impossível encontrar em Deus uma alegria.

Mas chegou o dia em que descobri que Cristo nunca me tinha deixado. Quase não me atrevia a dirigir-me a Ele, mas Ele compreendia-me e até me falava. E, quando o véu da inquietação se levantou, a confiança da fé iluminou a minha noite.»

(Irmão Roger, de Taizé, em "Deus só pode Amar")

quarta-feira, 25 de março de 2009

SOPRO DE CONFIANÇA

«Tal como a amendoeira começa a florir no alvor da Primavera, um sopro de confiança faz germinar os desertos do coração. (...)
É a flor que desabrocha de madrugada, quando é possível recomeçar sempre de novo, quando o sopro da confiança nos conduz pela senda de uma bondade serena.»

(Irmão Roger, de Taizé, em "Deus só pode Amar")

segunda-feira, 23 de março de 2009

AMOR É O MEU NOME


“ Dizer que fui criado à imagem de Deus é dizer que o amor é a razão de minha existência, pois Deus é amor.
Amor é a minha verdadeira identidade.
Esquecimento de mim mesmo é meu verdadeiro eu.
Amor é meu verdadeiro caráter. Amor é meu nome...

...o amor de Deus é como um rio que brota das profundezas da substância divina e se derrama incessantemente através da criação, comunicando, em abundância, a todas as coisas, vida, bondade e força.

(Thomas Merton, em "Novas sementes de contemplação")

sexta-feira, 20 de março de 2009

TU ÉS O MEU FILHO AMADO!

"Uma tentativa de me tornar consciente do amor de Jesus foi a meditação sobre o seu batismo (Lc 3,21s).

Jesus desce até o Jordão, entra na água, "que está povoada de culpa" das pessoas que ali se deixavam batizar por João. Ao descer, abre-se sobre Ele o céu, e Deus lhe diz: "Tu és o meu Filho amado, de ti eu me agrado".

Eu experimentei na meditação a realidade deste amor, quando conscientemente pronunciei esta frase - "tu és o meu filho amado" - para dentro da minha angústia, da minha escuridão, do meu fracasso, da minha mediocridade, da minha mentira de vida. Tentei descer às águas do meu inconsciente, ao reino das sombras, para onde reprimi tudo o que teme a luz do dia, aquilo que não quero ver de dia.

Para mim esta é uma bela imagem para o batismo de Jesus, que o céu se abre justamente quando Ele desce às profundezas do Jordão. O céu também quer se abrir sobre os abismos da nossa alma. Mas precisamos criar coragem para descer a esses abismos interiores, para então, lá na profundidade, ouvir esta palavra com um novo sentido: "tu és o meu filho amado"; "tu és a minha filha amada".

Ao pronunciar esta palavra, que eu sou o filho amado, para dentro da minha vida concreta, fiquei tocado no fundo do meu ser e ganhei paz interior. Toda a fala sobre o amor de Deus não nos toca enquanto não atingir nossa vida nas experiências do quotidiano."

(Anselm Grün, em "Abra seu coração para o Amor")

quarta-feira, 18 de março de 2009

SOMOS AMADOS!

"Quando revejo minha história pessoal e imagino que em todos os meus caminhos, desvios e descaminhos, Deus me amou, jamais retirou de mim Sua mão amorosa, olho para a minha infância com outros olhos; posso me dar conta de que o amor de Deus me envolveu também lá, onde não o percebi, porque a falta de amor das pessoas havia me magoado.

Então, após a raiva e a dor pelas feridas, aumentará em mim também a noção de amar e de ser amado: mesmo com minhas chagas e em minhas chagas sempre permaneci o filho amado, a filha amada de Deus.

Seu grandioso amor nem sempre oferece apenas amparo: ele desabrocha muitas vezes, justamente quando tudo está despedaçado dentro de nós. Em meio à dor pelo fracasso damo-nos conta de que no fundo somos amados. Não ficamos delirando em virtude deste amor, mas podemos nos entregar a ele e assim ficar bem tranquilos, humildes e livres de nós mesmos em relação à dor."

Anselm Grün, em "Abra seu coração para o amor"

segunda-feira, 16 de março de 2009

CADA UM É ESPECIAL

«Muitos querem ser especiais. Naturalmente, cada pessoa é única. Mas muitos vêem "seu" carácter especial apenas no grande poder, na grande posse.

Também devo, porém, olhar dentro de mim mesmo; qual é a minha história de vida, quais são minhas feridas, qual é minha sensibilidade? Pois tudo isto faz parte de mim - minhas feridas, meus erros, minhas fraquezas. Não apenas meus pontos fortes.
Apenas quando me reconcilio com isso descubro que sou singular, uma expressão única de Deus.

Mas pretender ser algo de especial passando por cima da própria humanidade é dar murro em ponta de faca.»

(Anselm Grün, em "O pequeno livro da verdadeira felicidade)

sexta-feira, 13 de março de 2009

O QUE OS ERROS PODEM MOSTRAR

«Muitas pessoas têm a tendência de dizer: se cometo um erro, não valho nada; serei rejeitado. E, com essa falta ideia, elas acabam justamente se prendendo aos seus erros. Consequência: procuram evitar os erros em todas as circunstâncias.
A experiência mostra, contudo, que quem procura evitar todos os errros é quem os acaba cometendo. Quem quer controlar tudo perde o controlo da vida.
Poder cometer erros pertence à minha condição humana.

E da minha condição também faz parte que eu seja aceite e amado com meus erros e apesar das minhas fraquezas. Mas também faz parte da condição humana trabalhar nossos erros e não cruzar simplesmente os braços e dizer: eu sou assim, vocês não vão me ter de outro jeito.
É preciso dizer: só quando eu me aceitar realmente - com minhas falhas, é claro - poderei dar o segundo passo e tentar mudar várias coisas. (...)

É este o objectivo da ascese: que eu me exercite, que eu entre numa boa forma para mim, que eu atinja um estado em que me sinta livre. Mas a ascese nunca vai impedir que eu cometa erros; eles sempre virão até mim e sempre voltarão a me mostrar que sou humano, não Deus.»

(Anselm Grün, em "O pequeno livro da verdadeira felicidade")

quarta-feira, 11 de março de 2009

CORAGEM PARA COM A PRÓPRIA HUMANIDADE

«Aceitar a mim mesmo - do jeito que sou - é uma das coisas mais difíceis a exigir de mim. Para tanto é preciso humildade; e a humildade pede isto: descer aos abismos da minha alma, à escuridão, às minhas tendências agressivas, assassinas, sádicas, masoquistas. Quem é sincero consigo próprio sentirá esses abismos e tendências em si mesmo.

A humildade exige que eu desça a esse abismo, a esse meu desamparo. Isto é, por certo, a coisa mais difícil. Mas é exactamente isto que significa a mensagem cristã da humilitas, humildade: ter coragem de descer à sua humanidade.

Infelizmente, muitos cristãos que querem ser cristãos por inteiro tentam saltar esse caminho.
Na América se fala de bypassing espiritual, ou seja, de atalho espiritual. Quem age assim quer se edificar com belos pensamentos, sentimentos e ideais religiosos e, ao mesmo tempo, escapar da sua humanidade.»

(Anselm Grün, em "O pequeno livro da verdadeira felicidade")

segunda-feira, 9 de março de 2009

O CAMINHO PARA UM CORAÇÃO TRANQUILO

"Aquele que sou saúda com melancolia aquele que eu gostaria de ser."

Por trás dessa frase do filósofo dinamarquês kierkegaard se esconde uma experiência que todos conhecemos: não raro, há um abismo entre nossa realidade (o jeito que somos) e nosso ideal (nosso ideia do que gostaríamos de ser). É totalmente compreensível que cada um goste de representar um ideal. Os ideais também são, em princípio, absolutamente positivos, pois têm o poder de estimular nosso crescimento; precisamos deles para sair das nossas comodidades.

Mas infelizmente muitos se identificam tanto com o seu ideal que não têm mais coragem de aceitar como são. Recusam aceitar sua realidade. Acham que só serão amados e reconhecidos por outras pessoas se puderem mostrar algo, se puderem fazer algo melhor que os demais. Então quase se fundem com sua concepção ideal. Outros são possuídos pela profunda desconfiança de que não serão reconhecidos como são.
Dizem para si mesmos: se você soubesse como realmente sou, não poderia mais me aceitar. Ou: se as pessoas soubessem como sou por dentro, se conhecessem minhas fantasias, não me respeitariam mais.

Para não cair nessa desconfiança de que os outros não me aceitariam como sou; para não cair nessa armadilha é preciso humildade; é preciso coragem para a verdade pessoal - coragem para aceitar a própria sombra. Claro que isso dói. Mas a negação nunca foi caminho para a felicidade e a paz interior.

Aceitar a verdade pessoal com toda a humildade é que traz tranquilidade ao coração.»


(Anselm Grün, em "O pequeno livro da verdadeira felicidade")

sexta-feira, 6 de março de 2009

Meu amor é único


Ela está perto do meu coração,
tão linda quanto uma flor no jardim;
é suave, como é o descanso para o meu corpo.

O amor que lhe tenho é minha vida fluindo plena,
como corre o riacho nas manhãs de outono,
em sereno abandono.
Minhas canções são únicas como meu amor,
como é único o murmúrio de um rio que canta com todas suas ondas e correntes.

(Rabindranath Tagore)

quarta-feira, 4 de março de 2009

HUMILDADE

«A humildade é a própria condição para ser aquilo que se é: para ser humano. Essa é a verdade da nossa humanidade. (...)

De facto, o que temos de aprender continuamente é a ser homens, ou seja, feitos de argila. Mas uma argila aberta ao céu! E isso com mansidão e humildade.

A primavera é o período em que floresce a humildade... em que o homem se torna verdejante. Mestre Eckart dizia: "O homem humilde se torna verdejante." Esse é o homem que está aberto ao que o Céu lhe oferece.

Ser humilde é aceitar-se como argila e, também, como luz. "Tu és pó e ao pó voltarás"; mas tu és luz e voltarás à Luz!

De facto, ser humilde é aceitar suas próprias qualidades e defeitos; ser humilde é aceitar aquilo que se é.»

(Jean-Yves Leloup, em "Amar... apesar de tudo")

segunda-feira, 2 de março de 2009

O DEUS CRISTÃO


«Deus não é uma simples projecção da nossa própria imagem no cosmos. Ele é diferente de tudo o que somos capazes de imaginar. Ele nos oferece algo que jamais poderíamos merecer: o perdão dos nossos pecados e o acolhimento do seu amor.(...)

O Deus cristão vem a nós como alguém completamente diferente. Tão diferente dos deuses da minha imaginação e tão além do meu controle. Encontrar-se com um Deus como esse é aterrorizante, pois encontrar o Amor Perfeito implica o abandono do nosso próprio ego.

Um Deus que pudéssemos conceber seria bem menos aterrorizante, mas não poderia nos oferecer aquilo de que mais precisamos, que á libertação dos nossos medos e a cura do nosso desânimo. (...)

O Deus que os cristãos adoram ama os pecadores, perdoa nossas falhas, alegra-se em poder nos oferecer uma segunda chance e um novo começo e nunca se cansa de buscar suas ovelhas desgarradas, de esperar pelos filhos pródigos ou de resgatar aqueles que foram maltratados pela vida e que se desviaram dos seus caminhos.»

(David G. Benner, em "A Entrega Total ao Amor")