segunda-feira, 15 de março de 2021


«Quem de Deus não conhece senão as suas criaturas
não precisa de outras catequeses ou de sermões.
Porque cada criatura é um inteiro livro sobre Deus.»
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Mestre Eckhart

sexta-feira, 12 de março de 2021

ASSIM ANDA ENTRE NÓS


Silencioso, último, sem préstimo, obscuro
assim anda entre nós. Atravessa as ruas
vai no movimento, o mundo é tão brilhante

que na verdade cega. Assim recolhe as provas
acerca de não vermos. Buscamos só imagens
que desprendem mais imagens, leques de escondermos
a nossa própria face - e assim anda entre nós
guardando o que perdemos, o que recusamos.

Passa entre ruídos, pára em velocidades
confirma a inversão das luzes e dos séculos.
Silencioso, último, sem préstimo, obscuro
aí vem, com seu sorriso, a face arcaica: o Deus
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Carlos Poças Falcão [poema sem título, de 1951], in Verbo. Deus como interrogação na poesia portuguesa


segunda-feira, 8 de março de 2021

A VIDA É BELA


Mostra-lhes a coisa simples […] perto da mão e do olhar”. É de R. M. Rilke a recomendação. (...) Em tempos tão extraordinários como os que vivemos, de lamento pelo que de inesperado nos tem trazido e pelo que de adquirido nos tem tirado, atender e cuidar do quotidiano e do simples que está “perto da mão e do olhar” será ato de resistência íntima ao vazio e ao estéril, de contacto e de adesão ao possível e ao fecundo. Para não deixarmos de ser intérpretes da graça da vida, bendizentes do bem possível. (...)

A vida é bela. É belíssima. E não é preciso muito para o saber. Saborear um pouco de pão molhado em azeite bastaria como testemunho da sua bondade radical, sempre nova. Mas a vida também é tão difícil. Há momentos e circunstâncias em que o pão se faz amargo. Os limites que nos fazem insinuam desconfianças, despertam ciúmes, incitam a agressões e transgressões. Aí, quando o custo encobre a bênção que a vida é, tendemos a afundar-nos, como se não houvesse mais nada, ou a evadirmo-nos, fazendo de conta, ou a agredir como forma de proteção. 

Reaprender a professar a confiança elementar na vida, bendizendo a sua graça e atravessando com esperança o seu custo, sem rendição nem alienação, torna-se um dever de humanidade. E um dever de crentes. Sim, porque a fé cristã não é menos do que ato elementar de confiança na vida, no seu sabor, na sua bondade, nas suas promessas. A profissão de fé em Deus está muito próxima da declaração de amor à vida."
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P. José Frazão Correia sj, in Ponto SJ

sexta-feira, 5 de março de 2021



sabemos que ainda
estamos vivos
quando as flores
não nos morrem
por falta de água
ou por excesso dela
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Inês Francisco Jacob