sexta-feira, 30 de julho de 2010

ESPIRITUALIDADE NO DIA-A-DIA

«O caminho da espiritualidade tem de conduzir ao quotidiano.
Consiste simplesmente em fazer aquilo que é «necessário», aquilo que devo fazer no momento, aquilo que devo a mim e ao meu ser, aquilo que devo ao outro e aquilo que devo a Deus. (...)

A espiritualidade tem de ser uma coisa concreta. Esta revela-se na configuração do dia, através de rituais curativos. Revela-se num relacionamento amável com os seres humanos, na disponibilidade para ajudar quando os outros precisam do meu trabalho, e numa ocupação em que sirvo as pessoas e não a minha própria imagem. O facto de um ser humano ser espiritual ou não é uma coisa que, segundo São Bento, conseguimos ler sempre no seu quotidiano: na sua maneira de lidar com as pessoas, como organiza o seu tempo e, não menos importante, como lida consigo próprio. Torna-se assim evidente se ele faz girar tudo à sua volta ou, em última análise, à volta de Deus.

Para São Bento, o objectivo de toda e qualquer espiritualidade é «que Deus seja glorificado em tudo». E, na sua regra, ele coloca este princípio precisamente num prosaico capítulo sobre os artíficies. A forma como trabalham e como lidam com o produto do seu trabalho é decisiva para avaliar se se deixam conduzir por cobiça ou avidez, ou se estão preocupados com a glorificação de Deus.»

Anselm Grun, em "O Livro das Respostas"

terça-feira, 27 de julho de 2010

Ó MEU MESTRE!



Não sei como cantas, ó mestre!
Escuto sempre em silencioso deslumbramento.
A luz da tua música ilumina o mundo.
O sopro de vida da tua música voa de céu em céu.
A torrente santa da tua música rompe qualquer obstáculo de pedra - e jorra.
O meu coração anseia por juntar-se ao teu cântico, mas em vão se esforça por ter voz.
Eu poderia falar, mas a linguagem não se transforma em cântico, e, confundindo, choro em voz alta.
Ah! Tu fizeste o meu coração prisioneiro nas malhas sem fim da tua música, ó meu mestre!

Vida da minha vida, eu tratarei de trazer sempre puro o meu corpo, sabendo que o teu tato pousa sobre todos os meus membros.
Eu tratarei de trazer sempre longe dos meus pensamentos qualquer falsidade, sabendo que tu é essa verdade que acende a luz da razão no meu espírito.
Eu tratarei de afastar sempre do meu coração qualquer maldade e de conservar sempre em flor o meu amor, sabendo que tens a tua morada no santuário íntimo do meu coração.
E será todo o meu empenho o de revelar-te em minhas ações, sabendo que é o teu poder que me dá a força de agir.

Rabindranath Tagore

sexta-feira, 23 de julho de 2010

PARA DEUS NADA É PEQUENO

"Purifique a sua intenção e a menor das suas acções encontrar-se-á cheia de Deus !" (Teillhard de Chardin)


«Não procureis acções espectaculares.
O que importa é o dom de vós mesmos.
O que importa é o grau de amor que pondes em cada um dos vossos gestos.
Sede fiéis nas pequenas coisas, porque é nelas que está a vossa força.
Para Deus nada é pequeno. (...)

Um dia, enquanto caminhava por uma rua de Londres, vi um homem sentado que parecia muito só. Fui até junto dele, peguei-lhe na mão e apertei-a.
Ele disse: "Há quanto tempo não sinto o calor de uma mão!"
Compreendi que um gesto assim tão pequeno pode dar muita alegria.»

Madre Teresa de Calcutá

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A CAPACIDADE DE AMAR

«A maior dignidade do homem, seu poder essencial e peculiar, o segredo mais íntimo daquilo que constitui sua humanidade, é a capacidade que ele tem de amar. Esse poder escondido nas profundezas da alma humana imprime no homem a imagem e semelhança de Deus.

Diferentes das demais criaturas que nos cercam, temos o poder de penetrar no mais íntimo santuário do nosso próprio ser. Podemos penetrar em nós como em templos de liberdade e de luz. Podemos abrir os olhos do nosso coração e contemplar face a face Deus, nosso Pai.

Podemos com Ele falar e ouvir-lhe a resposta. E Ele nos diz não apenas que somos chamados a viver como homens e dominar o mundo, mas que temos uma vocação ainda mais elevada.
Somos seus filhos.»

Thomas Merton

segunda-feira, 19 de julho de 2010

CAMINHO PARA UM CORAÇÃO TRANQUILO

"Aquele que sou saúda com melancolia aquele que eu gostaria de ser." (Kierkegaard)

«Por trás dessa frase do filósofo dinamarquês kierkegaard se esconde uma experiência que todos conhecemos: não raro, há um abismo entre nossa realidade (o jeito que somos) e nosso ideal (nosso ideia do que gostaríamos de ser). É totalmente compreensível que cada um goste de representar um ideal. Os ideais também são, em princípio, absolutamente positivos, pois têm o poder de estimular nosso crescimento; precisamos deles para sair das nossas comodidades.

Mas infelizmente muitos se identificam tanto com o seu ideal que não têm mais coragem de aceitar como são. Recusam aceitar sua realidade. Acham que só serão amados e reconhecidos por outras pessoas se puderem mostrar algo, se puderem fazer algo melhor que os demais. Então quase se fundem com sua concepção ideal. Outros são possuídos pela profunda desconfiança de que não serão reconhecidos como são.
Dizem para si mesmos: se você soubesse como realmente sou, não poderia mais me aceitar. Ou: se as pessoas soubessem como sou por dentro, se conhecessem minhas fantasias, não me respeitariam mais.

Para não cair nessa desconfiança de que os outros não me aceitariam como sou; para não cair nessa armadilha é preciso humildade; é preciso coragem para a verdade pessoal - coragem para aceitar a própria sombra. Claro que isso dói. Mas a negação nunca foi caminho para a felicidade e a paz interior.

Aceitar a verdade pessoal com toda a humildade é que traz tranquilidade ao coração.»


Anselm Grün, em "O pequeno livro da verdadeira felicidade"

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A ÚNICA COISA NECESSÁRIA

«Um dos principais obstáculos a essa perfeição de caridade generosa é a ansiedade egoísta de tirar o máximo de cada coisa, de ter um brilhante êxito aos nossos olhos e aos dos outros. Só podemos livrar-nos dessa ansiedade se aceitarmos perder algo em quase tudo o que fizermos. Não podemos dominar tudo, provar tudo, compreender tudo, esgotar totalmente cada experiência. Mas, se tivermos a coragem de abrir mão de quase tudo, provavelmente conseguiremos reter o único necessário – seja ele qual for. Se formos por demais ávidos de ter tudo, quase com certeza perderemos até a única coisa que necessitamos.

A felicidade consiste em descobrir precisamente o que pode ser essa ‘única coisa necessária’ em nossas vidas e renunciar alegremente a todo o resto. Pois então, por um divino paradoxo, constatamos que tudo o mais nos é dado junto com a coisa única de que precisamos.»

Thomas Merton, em "Homem algum é uma ilha"

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A FUGA DE DEUS

"Se temos medo de ficar sozinhos, medo do silêncio, talvez seja em virtude da nossa secreta desesperança de reconciliação íntima. Se não temos a esperança de ficar em paz connosco em nossa própria solidão e em nosso silêncio pessoal, jamais seremos capazes de nos encarar: continuaremos correndo sem parar.

E essa fuga do eu é, como indicou o filósofo suiço Max Picard, uma "fuga de Deus".
Afinal de contas, é nas profundezas da consciência que Deus fala, e, se recusamos a nos abrir por dentro e a olhar essas profundezas, também recusamos nos confrontar com o Deus invisível presente dentro de nós."

Thomas Merton, in "Amor e Vida"

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O PERIGO DO ÓDIO



«Não é só o nosso ódio aos outros que é perigoso, mas também, e sobretudo, o nosso ódio a nós mesmos. E esse ódio a nós mesmos é tão profundo e tão forte que não pode ser enfrentado. Pois é isso que nos faz ver nossa própria maldade nos outros e nos torna incapazes de vê-la em nós mesmos.»

Thomas Merton

sexta-feira, 9 de julho de 2010

TÃO POBRES

"E não falemos da pobreza do amor, para não ter mesmo aqui de começar a chorar. A pobreza de amor nas famílias, entre vizinhos e amigos, para com Deus, o pior dos empobrecimentos...

Estamos tão pobres de amor, meu amor. Sente-se tanto, nota-se tanto esta pobreza, esta falta, nunca tanto foi assim tanto, podes crer, meu amor.
É nesta falta, tão pobres dele, que ele cresce, tem de crescer ainda mais, acredita, meu amor."

Pedro Paixão, em "muito, meu amor"

quarta-feira, 7 de julho de 2010

CAPACIDADE DE AMAR

«Certa vez, Frei Egídio (um dos companheiros mais queridos de S. Francisco), homem muito simples e piedoso, falou assim ao Ministro General, Frei Boaventura (+ 1274), um dos maiores teólogos da Igreja.

- Meu Pai, Deus deu-lhe muitos dotes. Eu, pessoalmente, não recebi grandes talentos. O que devemos nós, ignorantes e tolos, fazer para sermos salvos?

O douto e santo Frei Boaventura elucidou-o dizendo:

- Se Deus não desse ao homem nenhuma outra capacidade senão a de amar, isto lhe bastaria para se salvar.

- Quer dizer que um ignorante, pode amar a Deus tanto como um sábio?, perguntou Frei Egídio, tentando entender.

- Mesmo uma velhinha muito ignorante, disse-lhe com ternura o grande teólogo, pode amar mais a Deus do que um professor de Teologia.


Dando pulos de alegria, Frei Egídio correu para a sacada do convento e começou a gritar:

- Ó velhinha ignorante e rude, tu que amas a Deus Nosso Senhor, podes amá-l`O mais do que o grande teólogo Frei Boaventura.


E, comovido, ficou ali, imóvel, durante três horas.»

(Pe. Neylor J. Tonin, em "Histórias de Sabedoria")

segunda-feira, 5 de julho de 2010

GRITOS

Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: - Porque é que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?

- Gritamos porque perdemos a calma - disse um deles.

- Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao nosso lado? Questionou novamente o pensador.

- Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça, respondeu outro discípulo.

E o mestre volta a perguntar: - Então não é possível falar-lhe em voz baixa?
Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador. Então ele esclareceu:

- Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido? O facto é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, os seus corações afastam-se muito. Para diminuir esta distância precisam de gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância. Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Às vezes estão tão próximos os seus corações, que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e basta. Seus corações se entendem. É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.
Por fim, o pensador conclui, dizendo:- Quando discutirem, não deixem que os vossos corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O SENTIDO HUMANO DA VIDA

O sentido da nossa vida é muito simples:
devemos orientar cada pensamento
e cada gesto de modo a que ela se torne
uma fonte de alento para os outros.

Sê justo para com os que se cruzam contigo.
Justo é aquele que deixa que os outros sejam iguais a si próprios,
que aceita as suas diferenças
e que ajuda os que precisam do seu auxílio.
Sê humano, com os outros e contigo.
A humanidade dos outros só é benéfica
para ti quando eles a têm para com eles próprios.
Só assim, a humanidade é recíproca
e pode ser um bálsamo para todos.

Sê bondoso para com as pessoas que cruzam o teu caminho.
Quem olha para si e para os outros com benevolência e tolerância
não se deixa tolher pelos seus próprios erros.
Agarra-se ao bem e acredita nele,
mesmo que sofra muitas desilusões.
A fé na bondade de cada um atrai o melhor que há nas pessoas,
pois reconhece o bem que há em todos.

Anselm Grün, em "Em cada dia... um caminho para a felicidade"