domingo, 30 de dezembro de 2007

10 grandes canções que ouvi em 2007



Era suposto publicar esta lista no meu blog sobre música. No entanto, esse blog encontra-se "parado" há algum tempo por duas razões principais: falta de disponibilidade para trabalhar em todos os blogs em que estou envolvido, o que me "obriga" a fazer opções; e também pelo facto do blog estar um pouco lento, devido( penso eu) à postagem excessiva de videos. Já retirei alguns, mas mesmo assim continua lento. Por isso, para cada canção, limitar-me-ei a postar apenas os links dos videos, ou o formato audio.

> Going to a Town - Rufus Wainwright
Um dos meus artistas favoritos. Inesquecível o concerto a que assisti há alguns anos no Coliseu dos Recreios (em Lisboa). Este ano, lançou mais um disco fantástico, do qual escolhi - "Going to a Town", como uma das grandes canções de 2007.

"(...)Tell me do you really think you go to hell for having loved?
Tell me and not for thinking every thing that you've done is good
(I really need to know)
After soaking the body of Jesus Christ in blood
I'm so tired of America"

> Australia - The Shins
Uma das canções que mais ouvi em 2007, certamente. Melodia viciante, cativante, irresistível. Pop de sonoridade revivalista com muita classe e talento!

> A lady of a certain age - Divine Comedy

Pura elegância pop! Uma das melhores canções desta banda que está no cume das minhas preferências musicais. Neil Hannon conta-nos (com ironia e inteligência) a história de vida de uma mulher que procura nos meandros da alta sociedade a sua segurança e felicidade.

"(...)You chased the sun around the Cote d'Azur
Until the light of youth became obscured
And left you all alone and in the shade
An English lady of a certain age"

> Our love goes deeper than this - Duke Special
Mais uma viciante e super dançante melodia pop! Pura magia! Com a participação de Neil Hannon (Divine Comedy), Duke Special (artista que desconhecia até tomar contacto com esta pérola musical) oferece-nos um delicioso momento musical que a cada audição vai tornando-se cada vez mais saboroso e irresistível.

> Advice for young mothers to be - The Veils
Canção ouvida dezenas e dezenas de vezes em 2007. Video que compartilhei com muita gente (vale a pena assistir até ao fim, mesmo que não se goste da canção). Uma pérola pop interpretada com mestria.

> Fidelity - Regina Spektor
Voz doce e encantadora. Pura delícia pop temperada com inocência e criatividade.

> Dream on Girl - Rita Redshoes
A Rita faz parte da banda que acompanha David Fonseca (ouçam e vejam com atenção este belo dueto: Hold Still). Este ano estreou-se a solo com esta canção de sonho! Três minutos de pura magia e encanto, com um video a condizer...

"(...) I can’t find your dreams tonight
And make your lover come back home
If you don’t know, you are on your own
I’ll choose the best days for your sleep

Come back to see the day you lost your heart
And odd your hopes
I’ll take you to see the sunrise and try to catch your ghost(...)"

> Superstars II - David Fonseca
Dizem os críticos e os admiradores que "Dream in Colour" é o melhor disco deste músico português até à data. Considerado um disco "luminoso", e também "o disco matinal de David Fonseca, do primeiro sol do dia a entrar pela janela, do despertar para uma nova aventura."
Confesso que ainda só ouvi algumas faixas, mas tenho de concordar com os críticos.
O primeiro single - "Superstars" , enquadra-se perfeitamente nesse espírito. O video está soberbo!
"(...) But they don’t know how really feels
They’re just here on holidays
Like dummies filling landscapes
How could they see you cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through
I held a spot light when you did that crazy dance with me
Yeah you did that crazy dance
You did that crazy dance with me"

> Encosta-te a mim - Jorge Palma
Ainda no panorama da produção musical nacional, não podia deixar de destacar uma das canções que mais tocou nas rádios nacionais. Com todo o mérito, pois Jorge Palma é um dos melhores compositores e letristas portugueses. Esta canção faz jus a esse status.
"(...) Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.

(...) Eu venho do nada, porque arrasei o que não quis
em nome da estrada, onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer."

> Vilarejo - Marisa Monte
Fecho os olhos e viajo para outro universo ao som desta canção. Obrigado Marisa!
"Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom
Na varanda, quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão

Pra acalmar o coração
Lá o mundo tem razão
Terra de heróis, lares de mãe
Paraiso se mudou para lá

Por cima das casas, cal
Frutos em qualquer quintal
Peitos fartos, filhos fortes
Sonho semeando o mundo real (...)"

Um Feliz Ano Novo para todos! Convido-vos a ler a minha mensagem.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

O Principal


Conta a lenda que uma mulher pobre com uma criança no colo, passava diante de uma caverna quando escutou uma voz misteriosa que lá de dentro lhe dizia: "Entre e apanhe tudo o que você desejar, mas não se esqueça do principal. Lembre-se, porém, de uma coisa: Depois que você sair, a porta fechar-se-á para sempre. Portanto, aproveite a oportunidade, mas não se esqueça do principal..."

A mulher entrou na caverna e encontrou muitas riquezas. Fascinada pelo ouro e pelas jóias, pôs a criança no chão e começou a juntar, ansiosamente, tudo o que podia no seu avental. A voz misteriosa falou novamente: "Você só tem oito minutos."
Esgotados os oito minutos, a mulher carregada de ouro e pedras preciosas, correu para fora da caverna e a porta fechou-se... Lembrou-se, então, que a criança ficara lá e a porta estava fechada para sempre!

A riqueza durou pouco e o desespero, sempre. O mesmo acontece às vezes, connosco.Temos uns oitenta anos para viver neste mundo, e uma voz sempre nos adverte: "Não se esqueça do principal!" E o principal é Deus, o Amor, os valores espirituais, a família, os amigos, a vida!
Mas a ganância, a riqueza, os prazeres materiais fascinam tanto que o principal vai ficando sempre de lado... Assim, esgotamos o nosso tempo aqui, e deixamos de lado o essencial: Os tesouros da alma!
Que jamais nos esqueçamos que a vida neste mundo, passa rápido e que a morte chega inesperadamente. E quando a porta desta vida se fechar para nós, de nada valerão as lamentações. Portanto, que jamais te esqueças do principal!


Autor desconhecido
(o texto foi adaptado por mim)

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Feliz Natal!



Jesus, neste natal encontrar-nos-ás?...

Já houve um dia em que não tiveste lugar nas casas iluminadas da cidade...

Hoje, com as pernas e o Coração a Caminho,
procuro-te nas ruas enfeitadas,
nas luzes, nas montras, nos rostos,
nas mãos carregadas de presentes sem história…


Há passos apressados e sacos cheios de menoridades necessárias
que esvaziam as algibeiras
mas não vejo encherem muito os corações…
Há rostos pesados e cansados
de olhares em sobressalto
entre a mais recente promoção e os últimos nomes da lista…
Há embrulhos, laços, postais, música…

E há as crianças...

Sim, sempre elas, a dar o tom da Alegria
Sem outra preocupação senão descobrir a última novidade
no céu, no semáforo que fica intermitente
ou no rafeiro que está deitado à entrada de um prédio...

Há as crianças...

Porque a alegria da maior parte dos que não são como elas não me convence…
Estão preocupados demais
para poderem estar alegres.
Estão apressados demais
para saborearem os caminhos que percorrem.
Estão ocupados demais
para perguntarem o porquê dos gestos que fazem.


Parece-me que o natal lhes sai dos bolsos
mas não lhes entra no coração!

E depois, sem que se dêem conta,
o natal já passou.
E não ficou…


Porque inventámos um natal
onde ninguém precisa de nascer para que seja NATAL!
Porque já vai longe a lembrança
de que um dia um Menino nasceu,
antes de haver shoppings e cartões de crédito;
num país onde não havia um Pai Natal
que gostasse de andar atrelado a renas;
onde não havia pinheirinhos com luzinhas
nem se cantava Jinglebells…


E, apesar de faltar tudo isso,
consta que houve NATAL…
E hoje,apesar de haver tudo isso,
consta que não há tanto NATAL como as montras dizem…



Rui Santiago, Derrotar Montanhas
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domingo, 23 de dezembro de 2007

Deus



Vejo Cristo por aí
Perambulando pelas esquinas da nossa cidade.
Vejo-o nas calçadas,
Nas praças,
Nas ruas...

É o Cristo Crucificado,
Excluído pela sociedade
E pela arrogância de quem não o reconhece
Nos pequeninos humilhados,
Nos pobres descamisados...
Agonizados,
Injustiçados,
Abandonados...

É o Cristo Crucificado,
Que na cruz da opressão,
Nos apela com intensidade
Por meio de tantas realidades,
Tantas causas e situações.


Vejo Cristo Crucificado por aí,
Nos viadutos e becos da cidade,
Como bicho sem valor,
Sem direito à dignidade
E gritando de dor...


Vejo-o por todos os cantos,
Por aí à toa,
Sem educação,
Sem moradia,
Sem alimentação...
Sem nada!


sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Arriscar


«A pomba que, por medo do gavião, se recusasse a sair do ninho, já se teria perdido no próprio acto de fugir do gavião. Porque o medo lhe teria roubado aquilo que de mais precioso existe num pássaro: o vôo. Quem, por medo do terrível, prefere o caminho prudente de fugir do risco, já nesse acto estará morto. Porque o medo lhe terá roubado aquilo que de mais precioso existe na vida humana: a capacidade de se arriscar para viver o que se ama.» - Rubem Alves - "Um Mundo num Grão de Areia" (os grifos são meus)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

A Magia do Humor


E acima de tudo o Humor! Sim, sim, sim! No coração o Amor, no rosto o Humor! Se eu fosse um Messias, agora diria qualquer coisa como: “Nem só de Amor vive o Homem, mas de todo o Humor que brota do seu coração!” (pronto, já disse). Está cientificamente provado o poder terapêutico do humor e do riso. E mesmo que não estivesse! Está historicamente comprovado que os melhores momentos da nossa vida estão marcados por uma boa gargalhada.

Aprendamos a rir-nos de nós próprios, sem medos nem inseguranças. É um dos mais evidentes sinais de maturidade é a capacidade de se rir de si próprio e ser causa de riso para os outros (riso, não gozo…).
Vá lá, ri-te de ti próprio, porque de qualquer maneira alguém se há-de rir de ti! E não te queiras alhear disto com desculpas deste género: “Eu não sou dado a risos, não nasci com grande humor…” Eu também não me sinto vocacionado a ser palhaço! Mas não perco a oportunidade de uma boa risada, nem tenho medo de manifestar a minha alegria.

Não estamos a falar da comédia dos palhaços, mas do humor dos sábios, a atitude espontânea e despretensiosa diante das situações, o humor anti-peneiras e anti-superficialidades. O humor dos simples, o riso fácil das crianças de coração feliz quando lhes fazemos uma careta, a alegria de ir nascendo em ti a certeza de que tudo isto é verdadeiramente possível se quiseres. Tens a vida ao teu alcance

Não achas bonito que os bebés, ao nascer, nasçam de cabeça! Sim, nascemos “de cabeça para a vida” (quer dizer, eu por acaso nasci de cesariana, mas dá para perceber a ideia, não dá?!). Entramos na vida “de cabeça”, e depois é que vamos ganhando os medos, as cobardias, os pessimismos…Viver uma Espiritualidade Prática implica redescobrir todos os dias como se “entra na vida de cabeça”, de peito aberto, coração confiante e mente criativa. Por isso, é nascer de novo todos os dias…

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

É assim que te quero...


É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

Pablo Neruda

domingo, 16 de dezembro de 2007

Transformados pelo Poder do Amor


« Quando as pessoas realmente amam, experimentam muito mais do que apenas a necessidade de companhia e aconchego mútuos. Na sua relação com o outro, tornam-se pessoas diferentes: são mais do que de costume, mais vivas, mais compreensivas, mais pacientes, mais resistentes... São refeitas como seres novos. Transformadas pelo poder do seu amor.

O amor é a revelação do nosso sentido, valor e identidade pessoais mais profundos. Mas esta revelação é impossível enquanto formos prisioneiros do nosso egoísmo. Não posso encontrar-me em mim mesmo, mas só no outro. O meu verdadeiro sentido e valor são-me mostrados não na avaliação que faço de mim mesmo, mas nos olhos de quem me ama; e este deve amar-me como sou, com as minhas falhas e limitações, revelando-me a verdade de que essas falhas e limitações não podem destruir o meu valor aos olhos daquele que me ama; e que sou, portanto, valioso como pessoa, a despeito das minhas falhas, a despeito das imperfeições do meu “pacote” exterior.
O pacote é totalmente irrelevante. O que importa é essa mensagem infinitamente preciosa que só posso descobrir no meu amor por outra pessoa. E essa mensagem, esse segredo, só me é plenamente revelado se, ao mesmo tempo, eu for capaz de ver e entender o valor singular e misterioso daquele que amo.» - Thomas Merton, em "Amor e Vida"

«O amor não é só uma maneira especial de estar vivo: é a perfeição da vida. Aquele que ama está mais vivo e é mais real do que quando não amava.» - Thomas Merton, em "Amor e Vida"

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

O Sentido da Vida Revelado no Amor


« O amor é o nosso verdadeiro destino. Não encontramos o sentido da vida sozinhos, e sim com outro. Não descobrimos o segredo das nossas vidas apenas por meio de estudo e de cálculo em nossas meditações isoladas. O sentido da nossa vida é um segredo que nos tem de ser revelado no amor, por aquele que amamos. E, se esse amor for irreal, o segredo não será encontrado, o sentido jamais se revelará, a mensagem jamais será decodificada. No melhor dos casos, receberemos uma mensagem confusa e parcial, que nos enganará e confundirá. Só seremos plenamente reais quando nos permitir-nos amar — seja uma pessoa humana ou Deus.» -Thomas Merton, em "O Amor e a Vida" (os grifos são meus)

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Aprender Quem Somos

« A vida consiste em aprender a viver de maneira autónoma, espontânea e livre: para isso é preciso reconhecer-se a si mesmo – estar familiarizado e à vontade consigo mesmo. Isso significa, basicamente, aprender quem somos e aprender o que temos para oferecer ao mundo contemporâneo e, depois, aprender como fazer para que essa oferta seja válida.
A finalidade da educação é mostrar a uma pessoa como se definir autêntica e espontaneamente em relação ao seu mundo – não é impor uma definição pré-fabricada do mundo e, menos ainda, uma definição arbitrária do próprio indivíduo.
O mundo é feito de pessoas que estão plenamente vivas dentro dele: isto é, de pessoas que podem ser elas mesmas nele e podem nele estabelecer umas com as outras uma relação viva e frutífera. O mundo, portanto, é mais real na proporção em que as pessoas nele são capazes de ser mais plenamente e mais humanamente vivas: isto é, mais capazes de fazer um uso consciente e lúcido de sua liberdade. Basicamente, essa liberdade deve consistir, antes de tudo, na capacidade de escolherem as suas próprias vidas, de se encontrarem no nível mais profundo possível. Uma liberdade superficial de vagar sem destino, ora aqui, ora ali, de experimentar isto e aquilo, de fazer uma escolha de distrações (…) é simplesmente um simulacro. Pretende ser uma liberdade de “escolha” ao passo que se esquiva da tarefa básica de descobrir quem é que escolhe. Não é livre porque não está querendo enfrentar o risco da autodescoberta.» - Thomas Merton, em "Amor e Vida" ( os grifos são meus)

domingo, 9 de dezembro de 2007

Para ti, meu anjo

«Para o meu coração basta teu peito
para a tua liberdade bastam minhas asas.
Desde a minha boca chegará até ao céu
o que estava dormindo sobre a tua alma.»

Pablo Neruda




Cowboy Junkies - «Angel Mine»



He searched for those wings that he knew
that this angel should have at her back
And although he can't find them
he really don't mind'cause he knows they'll grow back
And he reached for that halo that he knows
that she had when she first caught his eye
Although his hand came back empty
he's really not worried'cause he knows it still shines

I can't promise that I'll grow those wings
or keep this tarnished halo shined
but I'll never betray your trust
angel mine

I search all the time on the ground
for our shadows cast side by side
Just to remind me that I haven't gone crazy
that you exist and are mine
And I know that your skin is as warm and as real
as that smile in your eyes
But I have to keep touching and smelling
and tasting for fear it's all lies

I can't promise that I'll grow those wings
or keep this tarnished halo shined
but I'll never betray your trust
angel mine

Last night I awoke from the deepest of sleeps
with your voice in my head
And I could tell by your breathing
that you were still sleeping
I repeated those words that you had said

I can't promise that I'll grow those wings
or keep this tarnished halo shined
but I'll never betray your trust
angel mine

sábado, 8 de dezembro de 2007

Antes de amar-te


Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

Pablo Neruda

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Oração de Gandhi



"Senhor, ajuda-me a dizer a verdade
diante dos fortes e a não dizer mentiras para
ganhar o aplauso dos fracos.
Se me dás fortuna, não me tires a razão.
Se me dás sucesso, não me tires a humildade.
Se me dás humildade, não me tires a dignidade.
Ajuda-me a enxergar o outro lado da moeda.
Não me deixes acusar o outro
por traição aos demais, apenas por não pensar igual a mim.
Ensina-me a amar os outros como a mim mesmo.
Não deixes que me torne orgulhoso, se triunfo;
nem cair em desespero se fracasso.
Mas recorda-me que o fracasso
é a experiência que precede o triunfo.
Ensina-me que perdoar é um sinal de grandeza
e que a vingança é um sinal de baixeza.
Se não me deres o êxito,
dá-me forças para aprender com o fracasso.
Se eu ofender as pessoas,
dá-me coragem para desculpar-me.
E se as pessoas me ofenderem,
dá-me grandeza para perdoar-lhes.
Senhor, se eu me esquecer de Ti,
nunca Te esqueças de mim."

(in, Voz Portucalense, 12 Setembro)
Fonte: Setop

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Quando Há Fé

Quando a fé no peito se instala
Abrem-se as torneiras dos olhos
Erguem-se as cortinas da alma
O canto bom perfume exala

E o pensamento cria asas
Os pés do sentimento têm rodas
Pra rolar por entre os caminhos
Pra pisar num chão feito em brasas

Quando a fé no peito se instala
Tudo o mais se faz tão pequeno
As agruras tornam-se em provas
Coração se aquieta sereno

E a vida volta a ser vivida
No compasso das estrelas
Das marés das correntezas
De esperanças renascidas

domingo, 2 de dezembro de 2007

Para reflectir...

"A simplicidade é o esquecimento de si, do seu orgulho e do seu medo: é quietude contra inquietude, alegria contra preocupação, ligeireza contra seriedade, espontaneidade contra reflexão, amor contra amor próprio, verdade contra pretensão..." (André Comte-Sponville em Pequeno Tratado das Grandes Virtudes).



"A coragem encara o medo e, portanto, dele se assenhora. A covardia reprime o medo e, portanto, dele se torna escravo. Homens corajosos nunca perderam o elã pela vida mesmo que a situação que vivam seja sem brilho; covardemente, homens esmagados pelas incertezas da vida, perdem o desejo de viver. Devemos constantemente erguer diques de coragem para conter as inundações do medo". (Martin Luther King Jr.)



“A essência da religião não consiste na satisfação de uma necessidade humana, enquanto o homem enxergar a religião como a fonte das suas próprias necessidades, não é a Deus que ele serve, mas a si mesmo” (Abraham Joshua Heschel).


sábado, 1 de dezembro de 2007

A maior solidão


Qual é a maior de todas as solidões? O Vinicius de Moraes fez essa pergunta, e ele mesmo a respondeu. O inferno não é o outro, o inferno é a ausência do outro – especialmente do grande Outro. «...a maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, e que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e de ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflecte. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes da emoção, as que são o património de todos, e, encerrado no seu duro privilégio, semeia pedras do alto da sua fria e desolada torre.»

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O Inferno

«O inferno é o endurecimento de uma pessoa no mal. É portanto um estado do homem e não um lugar para o qual o pecador é lançado onde há fogo, diabinhos com enormes garfos a assar os condenados sobre grelhas. Tais imagens são de mau gosto e de morbidez religiosa. Inferno é um estado do homem, que se identificou com sua situação egoísta, que se petrificou em sua decisão de só pensar em si e em suas coisas e não nos outros e em Deus. É alguém que disse um não tão decisivo que não quer e não pode mais dizer um sim.» - Leonardo Boff

terça-feira, 27 de novembro de 2007

O amor egoísta

«O amor egoísta raramente respeita o direito do amado a ser uma pessoa autónoma. Longe de respeitar o verdadeiro ser do outro e permitir à sua personalidade que cresça e se expanda conforme a sua original expressão, esse amor procura guardá-lo em sujeição. Insiste em que ele se conforme a nós e ainda se esforça de todos os modos para o conseguir.
Um amor interesseiro definha e morre se não é alimentado pela atenção do amado. Quando amamos assim, os nossos amigos só existem para que os possamos amar. Amando-os, o que procuramos é domesticá-los e guardá-los como coisas nossas. A esse amor, o que mais amedronta é a emancipação do amado. Ele exige-lhe a sujeição, indispensável à sua existência.»- Thomas Merton, em "Homem algum é uma ilha"

domingo, 25 de novembro de 2007

Fico sempre desconfiado

"Fico sempre desconfiado de livros e artigos que nos dizem 'Mude uma só coisa na sua vida e a felicidade será sua', seja nos hábitos alimentares, seja no trabalho, ou na maneira de nos relacionarmos com nossos maridos ou mulheres. A vida é muito complicada para que a mudança de uma variável faça tanta diferença. Mas, quanto mais eu, como religioso lido com os problemas das pessoas, e quanto mais eu, como marido, filho, pai, irmão e amigo, aprendo a olhar para a minha própria vida honestamente, mais convencido fico de que uma explicação para muito desses sofrimentos poderia estar nesta noção errónea: temos que ser perfeitos para sermos amados pelas pessoas e perdemos esse amor se, alguma vez ficarmos aquém da perfeição. Há poucas emoções mais capazes de nos deixar mal em relação a nós mesmos do que a convicção de que não merecemos ser amados. E poucas coisas são mais decisivas para gerar essa convicção do que a idéia de que toda vez que fazemos algo de errado damos a Deus, e às pessoas mais achegadas a nós, razões para não nos amarem". (Harold Kushner, em "O quanto é preciso ser bom?").

sábado, 24 de novembro de 2007

Para reflectir...

Inpiração e Persistência


«O anjo inspirador só concede sua graça quando o bater de suas asas encontra o suor da face, e a inspiração provém da persistência e do detalhe. A bênção dos céus paira sobre os que perseveram.» - (Amós Oz)


Não te irrites


«Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e subtil recreio...» (Mário Quintana)


A quem devemos temer


«Nunca devemos ter medo de ladrões ou assassinos. São perigos externos e os menores que existem. Temamos a nós mesmos.Os preconceitos é que são os ladrões; os vícios é que são os assassinos. Os grandes perigos estão dentro de nós. Que importância tem aquele que ameaça a nossa vida ou a nossa fortuna? Preocupemo-nos com o que põe em perigo a nossa alma. (Victor Hugo em "Os Miseráveis").


segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A Inveja começa nos olhos



«A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes são tais trevas!» - Mateus 6; 22, 23

"Inveja é precisamente isto: uma doença dos olhos, uma perturbação dos seus movimentos (do latim invidere), que faz com que eles contemplem as coisas boas que o outro tem e que, ao voltar de sua viagem pela abundância do outro; destruam com desprezo todas as boas coisas que lhes são dadas. E eles ficam incapazes de ver com prazer aquilo que possuem." (Rubem Alves - Um mundo num grão de areia - Verus Editora)

A Inveja e o Progresso

"Os especialistas sabem que, se não tivermos inveja, se encontrarmos felicidade nas coisas que possuímos, seremos mais felizes e, por isso, trabalharemos menos e compraremos menos. O que é mau para o progresso. Por isso, é preciso que os nossos olhos fiquem doentes, que eles dancem a dança terrível que vai do que o outro tem e àquilo que temos. É preciso que sejamos infelizes. Quem tem inveja trabalha mais". (Rubem Alves - Um mundo num grão de areia - Verus Editora).




domingo, 18 de novembro de 2007

Canções da minha vida III


Esta é provavelmente uma das melhores canções pop jamais escritas por uma das melhores bandas de sempre. É um clássico. Para mim, é uma música que acompanhou muitos momentos críticos e sofridos da minha adolescência. Hoje tem, obviamente, um significado diferente do que tinha há 10-15 anos atrás. Continua a ser uma canção melancólica e que me causa alguma nostalgia; mas, agora eu sinto que ela também transmite esperança e que há luminosidade na melodia e nas palavras.

Ainda há pouco estive a ouvi-la e confesso que me arrepiei e comovi profundamente... A voz de Morrissey é única, especial... a melodia é soberba... a letra aviva-me na memória muitas recordações de um tempo de solidão, descobertas, buscas, poesia, paixões de adolescente, tardes de melancolia... Esta é daquelas músicas que ficam para sempre gravadas no coração, e em cujas palavras descobrimos novos caminhos e significados.

Há uma luz que nunca se apaga... que nos guia e nos conduz à nossa verdadeira casa onde nos sentimos verdadeiramente amados... onde nos encontramos com o que somos destinados a ser.
The Smiths - "There is a light that never goes out"



Take me out tonight
Where there's music and there's people
Who are young and alive
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven't got one anymore

Take me out tonight
Because I want to see people
And I want to see life
Driving in your car
Oh please don't drop me home
Because it's not my home, it's their home
And I'm welcome no more

And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Is such a heavenly way to die
And if a ten ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well the pleasure, the privilege is mine

Take me out tonight
Take me anywhere, I don't care
I don't care, I don't care
And in the darkened underpass
I thought Oh God, my chance has come at last
But then a strange fear gripped me
And I just couldn't ask

Take me out tonight
Oh take me anywhere, I don't care
I don't care, I don't care
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven't got one
No, I haven't got one

And if a double-decker bus
Crashes in to us
To die by your side
Is such a heavenly way to die
And if a ten ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well the pleasure, the privilege is mine

There is a light that never goes out
There is a light that never goes out
There is a light that never goes out
There is a light that never goes out

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Deus entre as pessoas

«Quando perguntavam a Martin Buber - o grande filósofo e teólogo judeu - "Onde Deus está?", ele foi suficientemente esperto para não dar a resposta estereotipada: Deus está em toda parte, Deus é encontrado nas igrejas e sinagogas.
Buber respondia que Deus está nos relacionamentos. Deus não é encontrado nas pessoas, mas entre as pessoas. Quando duas pessoas estão verdadeiramente em sintonia uma com a outra, Deus se aproxima e preenche o espaço entre elas para que fiquem unidas. Tanto o amor quanto a verdadeira amizade são mais do que apenas uma forma de saber que somos importantes para alguém. Eles são uma maneira de levar Deus para um mundo que, de outro modo, seria um vale de egoísmo e solidão.» -Harold Kushner

Fonte:Ricardo Gondim

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Uma religião que não vale a pena

Ora aqui está uma visão realista, inteligente e pertinente sobre a religião; mais concretamente, sobre a falsa religião que, infelizmente, continua a conquistar muitos adeptos.


É uma religião que, uma vez aceite, não torna ninguém melhor do que era.
É uma religião que permite distanciar-se da virtude, dando uma falsa segurança que os eleitos estarão seguros em seu pecado.
É uma religião que gera um clima de culpa, nunca plenamente expiada.
É uma religião que elege pessoas humanas para serem seus representantes diante da Divindade; fora eles, ninguém mais tem acesso a Deus.
É uma religião que valoriza a técnica de como obter o favor de Deus mais que a gratuidade do seu amor.
É uma religião que reforça o egocentrismo e não a busca da justiça.
É uma religião que se pratica ocasionalmente; não é uma filosofia de vida.

domingo, 11 de novembro de 2007

Procuram-se amigos

Encontrei este texto no blog Metanoia e decidi postá-lo quase na íntegra. Creio que o autor partilha alguns bons conceitos de amizade com os quais me identifico.

Mesmo com tantas decepções insisto em garimpar bons amigos.
Quero ser amigo de quem valorize a lealdade.
Mesmo depois que a ditadura militar libertou o meu pai,
o estigma de “subversivo” grudou-se nele.
Um dia papai contou-me, com lágrimas nos olhos,
que os seus antigos colegas da Aeronáutica
desciam a calçada para não se verem obrigados a cumprimentarem-no publicamente.
Ainda guardo esse trauma e, sinceramente, não consigo lidar com amizades que só se mantêm por causa de conveniências, qualquer uma.
Quero acreditar em amizades que não se intimidam com censuras,
que não retrocedem diante do perigo
e que não abandonam na hora do apedrejamento.
Amigos não desertam.
Quero ser amigo de quem não precise me proteger
e que não tenha medo de mim.
Não creio em companheirismos repletos de suspeitas.
Os grandes amigos são vulneráveis.
Conversam sem se policiar, rasgam a alma
e sabem que os seus segredos jamais serão lançados em rosto ou expostos publicamente.
Quero ser amigo de quem não se melindra facilmente.
Por mais que tente, continuo tosco;
magoo com os meus silêncios, com minha introspecção e,
muitas vezes, com meus comentários ácidos e impensados.
Portanto, preciso de amigos que tolerem as minhas heresias, minhas hesitações e meus pecados. Busco amizades que aguentem o baque das minhas inadequações; que sejam teimosos.
Quero ser amigo e não um mero cúmplice de vocação.
Já preguei em algumas igrejas que, depois que o pastor me deixou na calçada do aeroporto,
nunca mais tive notícias dele ou da sua igreja.
Não vou mais colocar o meu nome em conferências e congressos que me dêem prestígio
ou em que eu só sirva para reforçar a programação.
Quero ser amigo de quem não se contenta em re-encaminhar mensagens re-encaminhadas de power-point.
Também não gosto de cartões de aniversário com frases prontas e óbvias.
Acredito que os verdadeiros amigos têm o que repartir
e que sentem necessidade de expressar os seus sentimentos, as suas dúvidas
e principalmente os seus medos e desesperos.
Amizades superficiais são mais danosas para o espírito do que inimizades explícitas.
Quero ser amigo de quem não é muito certinho.
Não tolero conviver com quem nunca tropeça nos próprios cadarços(significa: atacadores dos sapatos).
Vez por outra, gosto de relaxar, rir do passado, sonhar maluquices para o futuro e conversar trivialidades.
Quero amigos que se deliciem em ouvir uma mesma música duas vezes para perceber a riqueza da letra;
de comentar o filme que acabaram de assistir e o último livro que leram.
Como é bom chorar com poesia!
Quero terminar os meus dias e poder dizer que,
mesmo descrendo das ideologias, dos sistemas económicos e das instituições religiosas,
cri em verdadeiras amizades porque tive bons amigos.
Até porque Deus não só ama, como também nos chamou de amigos.

Ricardo Gondim

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O modo como tratamos os outros

«Numa tribo na Nova Guiné, está entendido que as crianças que nascem à terça-feira são inteligentes, solares e vencedoras e, as que nascem à sexta, são estúpidas, falhadas e vencidas. O pior, é que isso acaba por acontecer porque o tratamento que os outros lhes dão é que faz delas escravas ou vencedoras.»

Extraido de "O Riso de Deus" de António Alçada Baptista

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Sobre o casamento


«O compromisso conjugal não é um atalho para o prazer indolor, mas um passo na direcção da coragem para o autoconhecimento, da transformação e do crescimento pessoal, no intercâmbio de forças e fraquezas, em que um faz o outro melhor, muitas vezes às custas de atrito e faísca, pois somente o ferro com ferro se afia.
Costumo dizer que durante a vida de solteiro nos estragamos, e o casamento é a principal resposta terapêutica de Deus. Quem não quer crescer, vencer limites emocionais, reescrever a sua história, exorcizar os seus demónios, fica solteiro e pula de paixão em paixão, em relações que são eternas enquanto duram. Isso sem falar na saúde das futuras gerações e no equilíbrio sistémico possível apenas a uma sociedade que saiba valorizar a família». - Ed Rene Kivitz, em "Outra Espiritualidade"

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Os meus livros II


O Riso de Deus, de António Alçada Baptista

Descrição da editora:"Ao acompanhar a vida de Francisco, o personagem central deste romance, ao longo das suas escolhas, da sua procura - ele que deliberadamente escolheu a via do sonho possível, da busca dos valores mais essenciais -, ao acompanhá-lo ao longo das sua deambulações pelo mundo, pela história, ao sabor dos acasos e encontros, e, muito especialmente, da intimidade de algumas mulheres cúmplices da mesma procura... "

Este é um dos livros que mais me tocou o coração e influenciou a construção da minha personalidade e lapidação da minha sensibilidade; que me ajudou a ver a vida com os olhos do amor, do afecto, da graça, da amizade sincera, profunda, verdadeira.

Faz alguns anos que o li pela primeira vez. Entretanto, já o reli vezes sem conta. Hoje, ao rele-lo, verifico que tenho uma compreensão e uma leitura diferentes de muitas das suas passagens. Creio que hoje compreendo com mais profundidade e intensidade essas passagens, porque vivi experiências, aprendi lições, li e reflecti sobre coisas que me abriram e alargaram a mente e aprofundaram a sensibilidade.
Para mim, hoje, essas passagens têm um significado que não tinham outrora; e o livro tornou-se ao longo dos anos uma chave para o apaziguamento de muitos fantasmas e inquietações, assim como para a compreensão de muitas coisas que se passam dentro e fora de mim. Alguém disse: «Não há no mundo livros que se devam ler, mas somente livros que uma pessoa deve ler em certo momento, em certo lugar, dentro de certas circunstâncias e num certo período da sua vida».
Hoje, sinto mais afinidade e correspondência com o mundo interior do autor. Tenho outra sensibilidade e maturidade. Creio que «...o proveito dos livros depende da sensibilidade do leitor; a ideia ou paixão mais profunda dorme como numa mina enquanto não é descoberta por uma mente e um coração afins
O Riso de Deus é um livro que fala a linguagem do amor, dos afectos. Um livro que nos conduz à descoberta de nós mesmos, do mundo que nos rodeia, do que nos une aos outros e do que dá verdadeiro sentido e signficado ás nossas vidas. Não é um livro com respostas prontas, mas repleto de questões que se nos colocam e fazem reflectir, procurar, duvidar, partir à descoberta.

Partilho convosco alguns trechos significativos:

"Acho que a grande criatividade é aquela que soubermos pôr nos nossos actos: fazer da nossa vida uma obra de arte: pôr na nossa vida a nossa individualidade mais identificada e com um verdadeiro sentido estético na relação com os outros e com o mundo, é a nossa grande criação."

"Amar é uma atitude de compreender e aceitar: é reconhecer os outros e respeitar a sua liberdade."

"Possivelmente, o amor continua a chamar-nos do centro do labirinto e nós anadamos ás voltas sem sermos capazes de o encontrar(...) e talvez seja necessário despojarmo-nos de muitas coisas e tornar a vestir as vestes da inocência para que o amor nos possa ser revelado."

"A letra de Deus nem sempre é decifrável e ninguém conhece a língua em que escreveu a alma humana.Tudo me leva a crer que as marcações que nos deram para o desempenho da vida passam ao lado do caminho por onde os nossos afectos poderiam fluir conforme o que está inscrito no mapa oculto do ser humano(...) Algumas vezes, até parece que a simplicidade emana do andamento da vida e que bastaria um pequeno gesto de espírito para passarmos para o lado de lá de tantas incomodidades que nos fazem viver como se tivéssemos calçado dois números abaixo da forma da alma."

"Procurei analisar o que são as minhas angústias. Creio que são assim uma espécie de reacção a uma forma incómoda que impede o meu desenvolvimento. Como se eu, periodicamente, tivesse que fazer um esforço para alargar o meu espaço, como se o estado do meu projecto interior não fosse cabendo no módulo que estou a usar. Depois de cada depressão sinto que qualquer coisa em mim ficou mais livre. É como se eu estivesse preso com várias cadeias e, depois de atravessar o túnel da depressão, conseguisse libertar-me de uma. Pergunto-me se cada homem não estará aprisionado pelos modelos de comportamento que herdou e se isso não atingirá a própria respiração da sua alma(...) As minhas depressões talvez sejam as minhas metamorfoses: é a maneira que eu tenho de passar de lagarta a crisálida. São etapas de libertação."

domingo, 4 de novembro de 2007

Quero


Proposta de Jorge Bucay sobre as relações interpessoais que foi publicada originalmente no prólogo do livro "Cartas para Claudia".

Quero que me oiças sem me julgares
Quero que me dês a tua opinião sem me aconselhares
Quero que confies em mim sem me exigires
Quero que me ajudes sem tentares decidir por mim
Quero que cuides de mim sem me anulares
Quero que olhes para mim sem projectares as tuas coisas em mim
Quero que me abraçes sem me asfixiares
Quero que me animes sem me empurrares
Quero que me apoies sem te encarregares de mim
Quero que me protejas sem mentiras
Quero que te aproximes sem me invadires
Quero que conheças as coisas que mais te desagradem em mim
Que as aceites e não pretendas mudá-las
Quero que saibas... que hoje podes contar comigo...
Sem condições.


Jorge Bucay, em "Contos para pensar"

sábado, 3 de novembro de 2007

Espiritualidade


«A espiritualidade está relacionada com aquelas qualidades do espírito humano, tais como amor e compaixão, paciência e tolerância, capacidade de perdoar, contentamento, noção de responsabilidade, noção de harmonia, que trazem felicidade tanto para a própria pessoa quanto para os outros(...) Há dentro de nós uma chama sagrada coberta pelas cinzas do consumismo, da busca desenfreada de bens materiais, da compra, do negócio e do interesse. As cinzas de uma vida distraída das coisas essenciais. É preciso remover tais cinzas e despertar a chama sagrada. E então irradiaremos. Seremos como o Sol.»

Leonardo Boff

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O mestre e o escorpião


Um mestre do Oriente passeava junto ao rio, quando viu que um escorpião se estava a afogar e decidiu tirá-lo da água; mas quando o fez, o escorpião picou-o. Numa reacção instintiva à dor provocada pela picada, o mestre largou o animal que voltou a cair à agua e rapidamente se estava a afogar. O mestre tentou novamente salvá-lo, mas voltou a ser picado.

Alguém que estava a observar a cena aproximou-se do mestre e disse-lhe:"Desculpe-me, mas o senhor é teimoso! Não entende que todas as vezes que tentar tirá-lo da água ele irá picá-lo?"

O mestre respondeu: "A natureza do escorpião é picar, e isto não vai mudar a minha, que é ajudar”. Então, com a ajuda de uma folha, o mestre tirou o escorpião da água e salvou a sua vida.
Autor desconhecido

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Lobos internos


Um Avô disse ao seu neto, que se chegou a ele com raiva de um amigo que lhe havia feito uma injustiça: "Deixa-me contar-lhe uma história. Eu mesmo, algumas vezes, senti grande ódio daqueles que me "aprontaram" tanto, sem qualquer arrependimento daquilo que fizeram. Todavia, o ódio corrói-te , mas não fere o teu inimigo. É o mesmo que tomaras veneno, desejando que o teu inimigo morra. Lutei muitas vezes contra estes sentimentos".

E o avô continuou contando ao neto: "É como se existissem dois lobos dentro de mim. Um deles é bom e não magoa. Ele vive em harmonia com todos ao redor dele e não se ofende quando não se teve intenção de ofender. Ele só lutará quando for certo fazer isso, e da maneira correcta.
Mas, o outro lobo, ah!, esse é cheio de raiva! Mesmo as pequeninas coisas o lançam num ataque de ira! Ele briga com todos, o tempo todo, sem qualquer motivo. Ele não pode pensar, porque a sua raiva e o seu ódio são muito grandes. É uma raiva inútil, pois sua raiva não irá mudar coisa alguma!
Algumas vezes é difícil conviver com estes dois lobos dentro de mim, pois ambos tentam dominar o meu espírito".

O garoto olhou intensamente nos olhos do seu Avô e perguntou:"Qual deles vence, Avô?"
O Avô sorriu e respondeu baixinho:"Aquele que eu alimento".


Autor desconhecido

domingo, 28 de outubro de 2007

O Tamanho das Pessoas


Os Tamanhos variam conforme o grau de envolvimento...
Uma pessoa é enorme para ti, quando fala do que leu e viveu,
quando te trata com carinho e respeito,
quando te olha nos olhos e sorri .

É pequena para ti quando só pensa em si mesma,
quando se comporta de uma maneira pouco gentil,
quando fracassa justamente no momento em que
teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas:
a amizade, o carinho, o respeito, o zelo e até mesmo o amor.

Uma pessoa é gigante para ti quando se interessa pela tua vida,
quando procura alternativas para o seu crescimento,
quando sonha junto contigo.

É pequena quando se desvia do assunto.

Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela,
mas de acordo com o que espera de si mesma.
Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos da moda.

Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou pequenez dentro de um relacionamento,
pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas.

Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande.

Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.


É difícil conviver com esta elasticidade:
as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos.
O nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros,
mas de acções e reacções, de expectativas e frustrações.

Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente torna-se mais uma.
O egoísmo unifica os insignificantes.

Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande...

É a sua sensibilidade, sem tamanho...

William Shakespeare

sábado, 27 de outubro de 2007

O Perdão liberta


«Qual é a maior vingança contra um inimigo? Já afirmei que é perdoar-lhe. Se o compreendermos, perdoar-lhe-emos. Se lhe perdoarmos, ele morre dentro de nós e renasce não mais como inimigo. Caso contrário, ele dormirá connosco e roubar-nos -á o sono, comerá connosco e destruirá o nosso apetite.» - Augusto Cury, in "O Mestre do Amor"

Não perdoar aprisiona-me ao passado e exclui todo potencial de mudança. Assim, transfiro o controle ao outro, meu inimigo, e condeno-me a sofrer as consequências do erro. Uma vez ouvi um rabino imigrante fazer uma declaração espantosa. "Antes de vir para a América, precisei perdoar Adolf Hitler", ele disse. "Eu não queria trazer Hitler dentro de mim para o meu novo país.

"Nós perdoamos não apenas para cumprir alguma lei mais elevada de moralidade; fazemo-lo por nós mesmos. Como Lewis Smedes destaca: "A primeira e geralmente única pessoa a ser curada pelo perdão é a pessoa que perdoa... Quando genuinamente perdoamos, libertamos um prisioneiro e então descobrimos que o prisioneiro que libertamos éramos nós".

O perdão quebra o ciclo da culpa e afrouxa a força opressora do pecado. Realiza as duas coisas por meio de uma notável ligação, colocando o perdoador do mesmo lado de quem cometeu o erro. Por meio disso, percebemos que não somos tão diferentes do culpado como gostaríamos de pensar. "Eu também sou diferente do que eu mesma me imagino. Saber disto é perdoar", disse Simone Weil. - Philip Yancey, in "Maravilhosa Graça"

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Canções da minha vida II


Como conheci este cantor e esta canção maravilhosa? Um dia, um amigo entra-me em casa com um cd na mão e diz-me:" tens que ouvir isto!". Coloco imediatamente o cd na aparelhagem sonora e a primeira música que oiço causa-me uma sensação agradável e tenho a percepção de que estou a ouvir uma verdadeira pérola musical. Não sinto arrepios na pele( como geralmente acontece quando oiço certas canções), mas a melodia enternece-me, a voz soa-me sensível e cheia de alma... os acordes de piano sublimes...
Mais tarde, depois de voltar a ouvi-la uma infinidade de vezes, começo a descobrir a sua essência; os seus pequenos tesouros ocultos, que uma única e superficial audição não tem o poder de nos revelar... Começo então a sentir os arrepios na pele, especialmente quando a escuto em determinados contextos emocionais. É uma canção simples, pura e muito bela. Uma das canções da minha vida, sem dúvida!
Espero que gostem! Expressem a vossa opinião (mas escutem com o coração, e várias vezes).


Nick Drake - "Northern Sky"



I never felt magic crazy as this
I never saw moons knew the meaning of the sea
I never held emotion in the palm of my hand
Or felt sweet breezes in the top of a tree
But now you're here
Brighten my northern sky.

It's been a long time that I'm waiting
Been a long time that I'm blown
been a long time that I've wandered
Through the people I have known
Oh, if you would and you could
Straighten my new mind's eye.

Would you love me for my money
Would you love me for my head
Would you love me through the winter
Would you love me 'til I'm dead
Oh, if you would and you could
Come blow your horn on high.

I never felt magic crazy as this
I never saw moons knew the meaning of the sea
I never held emotion in the palm of my hand
Or felt sweet breezes in the top of a tree
But now you're here
Brighten my northern sky.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Dois tipos de sabedoria

Há dois tipos de sabedoria: a inferior e a superior. A sabedoria inferior é dada por tudo o que uma pessoa sabe, e a superior é dada pela consciência do que não se sabe. Os verdadeiros sábios são os mais convictos da sua ignorância. Desconfiem das pessoas auto-suficientes. O orgulho é um golpe contra a lucidez, um atentado contra a inteligência.

A sabedoria superior tolera; a inferior julga; a superior alivia, a inferior culpa; a superior perdoa, a inferior condena. Na sabedoria inferior há diplomas, na superior ninguém se diploma, não há mestres nem doutores, todos são eternos aprendizes.
Que tipo de sabedoria controla a tua vida?

Augusto Cury, O Mestre do Amor

domingo, 21 de outubro de 2007

Poesia...



DESCOBERTA

Quero aqueles gestos puros
nascidos de dentro da alma
como uma criança que vem ao mundo
e exprime seus sentimentos
sem explicações
Porque os gestos puros
eles não tem máculas
simplesmente existem
nascidos da semente do coração
Quero aquele olhar cheio de encanto
que quebra a beleza da noite
e parte as estrelas em mil pedaços
E arregaça a lua toda
descobrindo seus segredos
ouvindo as canções puras
que emanam do verdadeiro ser
Quero aquelas palavras
vindas de dentro do coração
que não são achadas em livros
nem em poesias
aquelas que ninguém ainda disse
frases inéditas
que vivem presas nas teias da alma
Quero aquele impulso latente
da verdade sem máscaras
descobrir o segredo da vida
encantar-me com a musica
embutida nos sonhos
E viver como uma criança
descobrindo pelo tacto
pelo cheiro
pelo olhar
tudo totalmente inédito e puro
como o primeiro respirar

®Mary Fioratti -http://encontrodasaudade.blogspot.com/2006/08/descoberta-quero-aqueles-gestos-puros.html




PORQUE

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.


Sophia de Mello Breyner Andresen