segunda-feira, 29 de novembro de 2010

UM AMOR VIVO

"Quando um sentimento de inferioridade nos atormentar,
podemos com surpresa fazer esta descoberta:
o que nos abre à plenitude não são os dons prestigiosos e, menos ainda,
as grandes facilidades,
mas sim um amor vivo."

Irmão Roger, de Taizé, em "Viver em tudo a Paz do Coração"

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

CARTAS DE AMOR DO PROFETA

7 de fevereiro 1912

«Meu coração está hoje sereno, e as angústias de sempre foram substituídas pela calma e pela alegria; vi Jesus num sonho, durante a noite.
A mesma face generosa, os grandes olhos negros que pareciam queimar a quem o encarava de frente, os pés empoeirados, as sandálias usadas. E a presença forte do Seu espírito, dominando tudo com a paz daqueles que sabem olhar direito a Vida.

Oh, querida Mary, por que não posso sonhar com Jesus todas as noites? Por que não consigo olhar para minha vida com a metade da calma que Ele era capaz de me transmitir durante o sonho? Por que não consigo encontrar ninguém nesta Terra que possa ser tão simples e tão afectuoso como Ele?»

Kahlil Gibran, em "Cartas de amor do profeta"

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O MILAGRE DO AMOR

«Este é o milagre que sempre ocorre aos que realmente estão amando:
quanto mais dão, mais possuem desse amor delicioso e nutritivo do qual as flores e as crianças extraem a sua força e que poderia ajudar a todos se fosse aceite sem reservas.»

Rainer Maria Rilke

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O JULGAMENTO FINAL

«Não tenho medo do julgamento final, sei que seremos julgados por um olhar de criança... Quando hoje me coloco diante desse terrível olhar inocente, não consigo ter ilusões sobre mim mesmo e, ao mesmo tempo, não posso mais desesperar.

Quando somos olhados assim, não nos sentimos mais fora do alcance do amor, qualquer que seja a espessura das nossas máscaras.»

Jean-Yves Leloup, em "O absurdo e a graça"

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O SILÊNCIO

«O silêncio já se tornou para mim uma necessidade física espiritual.
Inicialmente escolhi-o para aliviar-me da depressão. A seguir precisei de tempo para escrever. Após havê-lo praticado por certo tempo descobri, todavia, seu valor espiritual.
E de repente dei conta de que eram esses momentos em que melhor podia comunicar-me com Deus. Agora sinto-me como se tivesse sido feito para o silêncio.»

M. Gandhi

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

AOS PROFESSORES

«Há profissões de alta sublimidade. Permito-me destacar a do professor.
Educar não é simplesmente passar conhecimentos, mas trocar corações.
A educação é uma obra de amor. O verdadeiro educador cinzela, com mãos especiais, o carácter dos seus alunos e constrói, através deles, as certezas futuras e os destinos de um povo.

E que recompensa terão os educadores pela dedicação e grandes renúncias da sua profissão, senão a de, uma vez esquecidos, ainda se lembrarem dos seus alunos?»

Pe. Neylor J. Tonin

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

SÊ BOM PARA CONTIGO

«Ser bondoso para contigo significa
olhares para ti com humanidade.
Ser bondoso significa sentires-te bem contigo próprio.
É reconhecer a criança ferida que existe em ti
e usares de misericórdia para com ela;
olhar para as próprias feridas com o olhar
compassivo do coração e agir com uma
dedicação sincera.
Não deves enfurecer-te com as tuas próprias fraquezas,
mas sim olhá-las com amor e aceitá-las.
Só um olhar carinhoso pode fazer com
que as nossas fraquezas se transformem.

Não dificultes a tua vida
ao levar demasiado a sério
aquilo que não te agrada em ti
e o que te aborrece nos outros.
Vive e deixa viver.
Vê para lá das coisas.

Sê criativo na forma como levas alegria
à vida das pessoas que vais encontrando.
As rosas que fazes florescer para os outros
não perfumam apenas a vida delas.
Também inebriam a tua.
Também enchem o teu coração de amor e alegria.
Sempre que te aproximas dos outros,
há algo em ti que se agita,
que te faz sentir livre e expansivo.»

Anselm Grün, em "Em cada dia... um caminho para a felicidade"

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

UMA ÁRVORE


"Se por algum desígnio voltar a esta terra amada gostava de ser uma árvore visitada por aves no Verão, por onde se passeassem os esquilos, onde escrevessem no casco pequenos nomes humanos apaixonados.

Uma árvore de uma floresta do norte onde no inverno cai a neve e há aquele silêncio que tudo guarda. E que depois fosse cortada por um lenhador, pai de uma família grande e saudável, e que parte de mim fosse logo queimada, o seu calor cozendo a comida de todos e que com a melhor madeira se fizesse uma mesa onde alguém um dia escrevesse uma carta a alguém que estivesse longe para lhe dizer que a amava."

Pedro Paixão, em "Nos teus braços morreríamos"

terça-feira, 9 de novembro de 2010

AMAR

Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas me pareciam
as pequenas satisfações que a vida me dava,
tanto mais claramente compreendia onde eu deveria procurar a fonte
das alegrias da vida.
Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo.
O dinheiro não era nada, o poder não era nada.
Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz.
A beleza não era nada.
Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar da sua beleza.
Também a saúde não contava tanto assim.
Cada um tem a saúde que sente.
Havia doentes cheios de vontade de viver
e havia sadios que definhavam angustiados pelo medo de sofrer.
A felicidade é amor, só isto.
Feliz é quem sabe amar.
Feliz é quem pode amar muito.
Mas amar e desejar não é a mesma coisa.
O amor é o desejo que atingiu a sabedoria.
O amor não quer possuir.
O amor quer somente amar.

Hermann Hesse

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

CARTA PARA LEONOR NO DIA EM QUE FEZ 22 ANOS

"Só tem valor o que não se pode comprar. Podem-se comprar pêssegos mas não podemos comprar o pessegueiro em flor no campo em que floresce. Isto não tem a ver com o dinheiro. Pode-se dar dinheiro por coisas que têm valor. Uma fotografia, por exemplo, tem um custo, mas o seu valor está onde ela não está, de mistura com o sonho que nos agarra quando a vemos. É também assim o amor.

É sempre preciso voltar à banalidade das coisas. O espírito é só o contraste que revela. Somos pesados como a água e leves como o vento. Não paramos de passar. E o mistério das coisas não está nelas, nem em nós. O mistério existe e é tudo. E se quisermos saber tudo ficamos logo cegos. A bondade é o que há de mais belo, Leonor, e não se sabe o que é. É urgente que aprendas a viajar.

E não voltamos nunca. E vamos acabar. O que nos espera não espera por nós. Ficaremos cansados de qualquer maneira, e não há nada a fazer e isso já o sabíamos no começo e no fim não nos podemos queixar.
E no entanto vale a pena este lugar, este tempo, esta vida que é um erro. Vale a pena esperar, não esquecer o que nunca está presente. Vamos indo, aos poucos, a um encontro secreto. Leonor, não tenhas medo.

A maldade turva o olhar, não o dos outros, mas o nosso. Não é preciso ter em conta as consequências, é no próprio fazer que a culpa se mede. Olha para os teus olhos antes de olhares para os dos outros. O que os teus olhos vêem vem da luz que tens em ti.
Foge do escuro, foge. Foge sobretudo das sombras do teu olhar. O mais precioso, por mais ténue, vale mais do que tudo o resto, mesmo sem existir. Todo o tempo é precioso. Dorme menos.
Não vale a pena dormir com um homem com quem se dorme. O prazer vem só com o que o acompanha da melhor maneira. De resto está só em passar e não há caixa em que se guarde que depois se possa oferecer.

Só o longo trabalho salva. E o amor precisa de mais cuidados do que um jardim. Todos os dias é preciso regar o nosso amor. E podar os ramos mortos. Trabalhemos pois, Leonor, que o amor requer trabalho e o trabalho precisa de amor.

Nunca saberemos o que nos une. Nem o que nos separa. Foi sempre assim. É essa a pequena grandeza que nos distingue. Só nisso somos todos iguais. O homem do lixo vale mais do que eu. A ideia que temos do que somos ou seremos é uma luz incerta e vaga. O mais das vezes enganamo-nos. Mais ainda quando julgamos acertar, felizmente. Temos sempre de recomeçar e é nisso que somos eternos. Louvemos pois o que nos separa e nos une, isso mesmo a que é preciso não desagradar.
E quando o corpo cansa e a alma entristece não faças caso. De vez em quando o mundo também precisa de descansar. Admira as árvores e as nuvens e a sua indiferença por ti. Não queiras ser o centro de nada. À tua volta descobre o que não és. A frivolidade gasta a alma numa inútil correria.
Sê humilde e sensata. Se for preciso torna-te pesada como uma pedra que, embora pesada, não se levanta contra ninguém. E se for preciso sê como o chicote que corta, doce e alegre Leonor."

Pedro Paixão, em "Vida de Adulto"

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A VIDA É ESPANTOSA


«Tem nove meses. Está sentado ao meu lado no carro que conduzo através de um campo inundado de sol. Enquanto tomo atenção à estrada, observo-o de vez em quando.
Tem nos olhos a gravidade de um sábio.
Estuda as luzes, as sombras e os laços dos sapatinhos, que agarrou.
Por vezes um pensamento fá-lo franzir a testa.
Abrando um pouco, inclino-me para ele e digo-lhe a rir: "A vida é espantosa. Vamos todos morrer mas mesmo assim é fabulosa."
Ele interrompe os estudos, fixa em mim os olhos negros como ameixas, sorri de lado e retoma os pensamentos profundos, imperturbável, majestoso.»
Christian Bobin, em "Ressuscitar"

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

INSTANTES DE ETERNIDADE

Na altura em que nasci, uma fada debruçou-se sobre o meu berço e disse-me:
«Não experimentarás senão uma parte minúscula desta vida e em troca compreendê-la-ás toda.»

Quinze segundos de pureza aqui, outros dez além: com um pouco de sorte, terá havido na minha vida, quando partir, pureza suficiente para perfazer uma hora.

Christian Bobin, em "Ressuscitar"