sexta-feira, 31 de julho de 2009

ARTE DA VIDA

«A vida não está dependente da quantidade das vivências, mas da sua qualidade.

A arte da vida implica viver cada momento, estar atento a si próprio, estar em sintonia consigo e com o mundo, compreender com todos os sentidos. Quando estou de posse dos meus sentidos, experimento tudo o que vem ter comigo de uma forma intensa. Então vejo em tudo o segredo, vejo em todas as coisas o Deus invisível.
Quando ouço plenamente, ouço o que é inaudível.

A vida não é, antes de mais, consumir, mas percepcionar, sentir, provar e saborear.
Não é quantidade de coisas que eu tomo para mim que decidem se eu vivo realmente, mas o modo como eu percepciono e experimento aquilo que me é oferecido.
Tem a ver, sobretudo, com a intensidade da vida. E essa precisa de sossego, serenidade, liberdade, admiração, entrega àquilo que verdadeiramente é importante.»

Anselm Grün, em "Bento de Núrsia - Mestre da Espiritualidade"

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A EXPERIÊNCIA CURATIVA DO AMOR DE DEUS

«Em suas meditações sobre o amor, Ernesto Cardenal tentou abrir os olhos das pessoas para a realidade de que o amor de Deus as envolve em toda parte, que tudo é expressão deste amor divino: "O amor de Deus nos envolve por todos os lados. Seu amor é a água que bebemos; o ar que respiramos e a luz que enxergamos. Todos os fenômenos naturais são tão-somente distintas formas materiais do amor de Deus. Nós nos movemos em seu amor como o peixe na água".

Não basta ter fé para experimentar tal realidade, mas precisamos nos relacionar de outra maneira com a água, com o ar, com o alimento. Em cada gole de água que tomamos precisamos nos dar conta de que nele estamos bebendo do amor de Deus. E em cada gole de vinho podemos dizer em uníssono com o apaixonado do Cântico dos Cânticos: "Mais doce que o vinho é o teu amor" (4,10).

O atencioso e zeloso trato ao lidar com as coisas pode nos fazer perceber que em toda parte está o amor de Deus; que em tudo entramos em contacto com Ele. Isso irá modificar nossa vida: deixaremos de lamuriar que ninguém nos ama; que desejamos tanto um relacionamento de afecto e proximidade, mas que não o experimentamos porque ninguém se preocupa connosco, porque ninguém nos acha dignos de amor. Pelo contrário, o amor nos envolve; só precisamos aproveitá-lo."

(Anselm Grün, em "Abra seu coração para o amor")

segunda-feira, 27 de julho de 2009

EXPERIMENTAR O AMOR DE DEUS


«Da mesma forma que o sol aquece a pele e perpassa todo o corpo, o amor de Deus quer incidir sobre todos os poros de nosso ser.

O amor de Deus não é algo meramente cognitivo; ele pode ser experimentado no contacto com a criação, com o sol que nos ilumina ou o vento que nos acaricia ternamente.

O amor é sem objecto. Ele simplesmente é. Este também é um desejo que todos nós temos, o de sermos simplesmente amor.

Há aquelas pessoas visivelmente cheias de amor, totalmente permeáveis ao amor divino. Elas não estão apaixonadas por outra pessoa, mas irradiam o amor em todo o seu ser. Seu amor está presente no relacionamento com todos aqueles que elas encontram: têm a capacidade de se dirigir a cada um com total benevolência. Seu amor existe para os animais e plantas, para uma estátua ou uma pintura, assim como para a música. Está presente em cada momento. A presença destas pessoas nos faz sentir bem: irradiam amor; suas mãos têm algo de carinhoso. Não é possível descrever o que se passa connosco quando encontramos uma pessoa assim; de alguma maneira nos sentimos aceites, levados a sério, respeitados, amados; nosso coração começa a "degelar"; sentimo-nos livres, não precisamos ocultar nada, podemos ser realmente como somos.»

(Anselm Grun, em "Abra seu coração para o amor")

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A BELEZA QUE NÃO PODE SER PINTADA

Os gregos da era clássica costumavam dizer que o homem, para atingir sua plenitude humana, deve ser belo e bom, e o inesquecível Cervantes, com seu mais inesquecível Dom Quixote, dirá, mais tarde, que não existe beleza separada da bondade. (...)

Francis Bacon, filósofo inglês, também se interessou por esse assunto quando escreveu: A melhor parte da beleza é aquela que não pode ser pintada.

Hoje, diríamos, com o desagrado de tantas actrizes e modelos, que a melhor parte da beleza é a que não pode ser fotografada, primeiro porque essas belezas de revistas, de cinema e TV são puras folhas de papel ou reflexos coloridos e, segundo, porque, na frase de Bacon, se trata de uma formosura espiritual que não pode ser captada nem pelas mais modernas câmeras digitais!

Héber Salvador de Lima SJ, em "Tudo é Graça..."

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A BELEZA QUE SALVA O MUNDO

(foto de Madre Teresa de Calcutá)



O escritor russo Dostoiévski, belo representante extinto de uma raça de romancistas cristãos, disse esta frase singular e profunda: "A Beleza salvará o mundo!".

Que tipo de beleza será essa que ele chama de salvadora? Não é certamente a que nos aparece na TV, em certas revistas e nas telas dos cinemas. Há uma beleza transcendental que paira acima de tudo isso e brilha mais nas vidas do que nos corpos: a beleza do heroísmo, por exemplo; a beleza dos que colocam sua fé, seu idealismo, seus compromissos de vida, seu amor e fidelidade à família... num primeiro lugar muito elevado que não costuma ser explorado pelos mídia.

O verdadeiro artista, aos olhos de Deus, não é aquele que pinta quadros que valham milhões, esculpe estátuas ou brilha nos palcos de todo o mundo.

O artista genuíno é aquele ou aquela que brilham mais por dentro do que por fora, mas cujo brilho interior é tão intenso que ilumina a vida dos que os contemplam. É esse o tipo de beleza que tem o condão de salvar o mundo. O artista que irradia esse brilho salvador não é um tipo especial de pessoa, porque qualquer pessoa pode ser esse tipo especial de artista.

A única beleza que não passa e salva o mundo, é a de uma vida consagrada aos outros, na ânsia de minorar seus sofrimentos e de os tornar felizes!

Héber Salvador de Lima SJ, em "Tudo é Graça..."

segunda-feira, 20 de julho de 2009

BELEZA QUE NÃO PASSA...

(Foto de Jean Vanier)

O poeta inglês escreveu um verso imortal: «A thing of beauty is a joy for ever (Uma coisa bela é uma alegria eterna), mas esse dom de eternidade só lhe é concedido se ela não for meramente terrena e corpórea, reflectindo por fora o que lhe dá a Graça de Deus por dentro.

Como se sabe, eterno mesmo é somente Deus; portanto, neste mundo, tudo quanto pretenda ser perene e eterno tem de participar dessa eternidade divina; em outras palavras, qualquer beleza genuína tem de trazer em si os traços ou reflexos dessa Graça interior que só nos vem da presença de Deus dentro das nossas almas e de nossas vidas.

E como Deus não passa nunca, também esse tipo de beleza que floresce em nós, por causa de Sua Presença, jamais passará.

Héber Salvador de Lima SJ, em "Tudo é Graça..."

sexta-feira, 17 de julho de 2009

ACEITAÇÃO

«É decisivo para o seu crescimento saudável que a pessoa, desde muito cedo, se sinta aceite. Aceite não significa um sentimento de indiferença, um tanto me faz, um eu engulo tudo, um como te apetecer sem verdade nem exigência.

Aceitar outra pessoa significa dar a essa pessoa a possibilidade de ela estar diante de mim sem que tenha necessidade de se defender, de se mascarar ou de estar na expectativa de aprovação. Significa que pode ser ela própria.»

Vasco Pinto de Magalhães, em "Onde há crise, há esperança"

quarta-feira, 15 de julho de 2009

SE ME É NEGADO O AMOR


Se me é negado o amor, por que, então, amanhece;
por que sussurra o vento do sul entre as folhas recém nascidas?
Se me é negado o amor, por que, então,
A noite entristece com nostálgico silêncio as estrelas?
E por que este desatinado coração continua,
Esperançado e louco, olhando o mar infinito?

Rabindranath Tagore

segunda-feira, 13 de julho de 2009

ABRE A PORTA À ESPERANÇA

Ter esperança
é acreditar num futuro de redenção,
mesmo no meio das realidades mais tristes.
Ter esperança é não desistir de si próprio.
Ter esperança é confiar
que Deus pode transformar tudo.
Ele há-de encher a nossa alma de alegria,
se deixarmos que a Esperança
more no nosso coração.

Mantém a lucidez de espírito.
Não deixes que a tua alma seja toldada
pelas nuvens negras que passam
no firmamento do teu coração.

Quem consegue ver um raio de luz
por entre a neblina dos dias,
quem não deixa de acreditar na Luz,
mesmo que se encontre
na mais profunda das tristezas,
há-de encontrar no meio de todas as contrariedades
e da infelicidade o caminho para a libertação.
A capacidade de encontrar este caminho
nos momentos em que te sentes mais magoado,
desiludido ou desesperado
é o lado mais belo da arte de viver.

Cada um de nós carrega dentro de si
o paraíso para onde caminha.
E sendo assim, toda a caminhada
pode já significar uma antecipação do paraíso em si.
Mesmo que o céu da tua consciência
esteja coberto de nuvens negras
a anunciar tempestade,
nunca te esqueças que na tua alma
há um sol que brilha sempre.
O lugar que Deus habita dentro de ti
é um céu límpido e azul,
marcado pela claridade.

Anselm Grün, em "Em cada dia... um caminho para a felicidade"

sexta-feira, 10 de julho de 2009

A VERDADEIRA LIBERTAÇÃO

Organizar um exército, respondeu Jesus, é tarefa relativamente fácil.
Eu não vim para aniquilar os romanos,
mas para trazer outra libertação: vim para sujeitar os demónios do coração,
para transformar o ódio em amor e a vingança em perdão,
para pôr em debandada as legiões do egoísmo,
para pagar o mal com o bem e amar o inimigo,
para conquistar os impossíveis e alcançar uma estrela com a mão.

Quando tiver culminado esta libertação,
já não será possível no mundo o domínio de uns sobre os outros.

Ignacio Larrañaga

quarta-feira, 8 de julho de 2009

GRATIDÃO

Na opinião de Cícero, a gratidão é a atitude mais importante do ser humano. Trata-se da condição prévia para a «concórdia», para a união entre as pessoas e para a consonância dos corações. (...)

É a gratidão que determina o ser humano, uma vez que é através desta atitude que tomamos consciência da nossa relação existencial, que sentimos e reconhecemos a ligação com os outros, o facto de não vivermos sozinhos. Isso é válido para a nossa relação com as outras pessoas, às quais nos remetemos e sem as quais não conseguimos viver. Mas também é válido para a nossa relação com Deus, que é a razão mais profunda da nossa existência.
A gratidão é a mais profunda das orações, disse, certa vez, o monge beneditino David Steindl-Rast. (...)

A gratidão transforma a minha vida. «Aquele que começa a agradecer começa também a ver a vida com outros olhos» (Irmela Hofmann). Albert Schweitzer aconselha: «Quando te sentires fraco, abatido e infeliz, começa a agradecer, para começares a sentir-te melhor.»
Quando observo a minha vida com gratidão, a escuridão aclara-se e aquilo que é amargo adquire um sabor agradável. A gratidão livra-me do desânimo e da amargura e aproxima-me de Deus.

Diz-se que São Filipe Néri rezava à noite a seguinte oração:
«Senhor, agradeço-te pelo facto de as coisas hoje não terem corrido como eu queria, mas sim como Tu querias.»

Aquele que contempla o dia que passou com uma tal atitude de aceitação - que é, ao mesmo tempo, uma questão de humor e relativização da perspectiva do «eu» - não se irrita e não cai na tentação da vaidade; então, para ele, tudo se torna uma fonte de alegria e paz.

Anselm Grün, em "O Livro das Respostas"

segunda-feira, 6 de julho de 2009

INGRATIDÃO

Aquele que pensa, reconhece que pode estar grato por muitas das coisas que lhe acontecem diariamente. Vê-o nas muitas pequenas dádivas que recebe no quotidiano: a dádiva de um olhar amigo, de um bom encontro, de uma palavra que o conforta e tranquiliza.
O filósofo romano Cícero descreveu a ingratidão como um esquecimento. (...) O Talmud diz que a ingratidão é pior do que o roubo. E Johann Wolfgang von Goethe diz o seguinte: «A ingratidão é sempre um tipo de fraqueza. Nunca vi pessoas inteligentes serem ingratas.»(...)

O ingrato não é verdadeiramente um ser humano, precisamente porque não consegue aperceber-se das oportunidades importantes e positivas e vivê-las. Cícero está convencido de que só as pessoas gratas conseguem fazer amizades e viver em sociedade umas com as outras. As pessoas ingratas são pessoas desagradáveis. Ninguém quer ter qualquer tipo de relação com elas. Sentimo-nos mal quando próximo delas. Temos a sensação de que nunca lhes conseguimos agradar. Por isso, afastamo-nos, uma vez que delas emana uma atmosfera negativa e destrutiva.
A ingratidão destrói a harmonia dos corações.
Não é capaz de celebrar e, em última análise, de sentir alegria.
Nunca conseguimos agradar às pessoas ingratas.
São insaciáveis e nunca estão satisfeitas.
Não é possível entendermo-nos vem com pessoas ingratas.

Anselm Grün, em "O Livro das Respostas"

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Para entrar no Reino...

Para entrar no Reino,
o homem tem de começar por derrubar,
golpe a golpe, a estátua de si mesmo,
renunciar aos próprios delírios e fantasias,
despir-se de vestimentas artificiais
e arrancar máscaras postiças,
aceitar com naturalidade a própria contingência e precaridade,
e apresentar-se frente a Deus como uma criança,
como um pobre e um indigente.

Ignacio Larrañaga

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A NOSSA MISSÃO NO MUNDO

Como cristão, interpreto a minha missão no mundo da seguinte forma: Deus - tal como Romano Guardini disse, certa vez - pronunciou sobre mim uma palavra original que pensou apenas para mim. Diria que se trata de uma palavra-passe que só serve para mim. A minha missão consiste em deixar que essa palavra única de Deus, que em mim encarnou, se torne perceptível neste mundo.

Posso dizer que gostaria de deixar neste mundo a minha marca de vida muito pessoal. Gostaria de voltar a irradiar neste mundo aquilo que Deus colocou em mim. Mas, o que é afinal, a minha marca de vida? Reconheço-a quando escuto o que existe dentro de mim e sinto que sou consistente. E reconheço-a quando me reconcilio com a minha história de vida.
Muitas vezes, é precisamente nas minhas lesões espirituais que consigo descobrir a marca que posso deixar neste mundo. No lugar onde me sinto magoado, também me abro ao meu verdadeiro ser, à palavra única que Deus pronunciou em mim.

Anselm Grün, em "O Livro das Respostas"