terça-feira, 5 de outubro de 2010

A LOJA DA VERDADE

Mal pude crer nos olhos quando vi
o nome do lugar: A Loja da Verdade.
Ali eles vendiam a Verdade!

A funcionária ao balcão foi delicada:
que tipo de verdade eu procurava...
só parte dela ou a Verdade toda?
Pois claro, a Verdade toda.
Não me dê decepções nem altos pensamentos.
Eu disse que gostava da Verdade
muito clara, simples, inteira.
Ouvindo isto, ela conduziu-me então
para o outro lado do balcão onde vendiam,
somente aí, a tal Verdade inteira.

O comerciante olhou-me compassivo
e mostrou-me a «etiqueta» com o preço:
«Como assim?», perguntei, determinado
a conseguir, custasse o que custasse
a Verdade toda.
«É que... se levar esta Verdade,
o preço que por ela vai pagar
será não ter mais descanso na vida».

Foi o que disse o homem do balcão
e eu, triste, afastei-me dessa loja
porque pensava eu, tolo, que podia
achar a Verdade inteira... a baixo preço.
Não estou pronto ainda para ela;
quero descanso e paz, de vez em quando;
sinto que preciso ainda de racionalizar,
de usar defesas,
escondendo-me atrás dessas muralhas
que levantei com crenças imbatíveis!

Anthony de Mello, O canto do pássaro

1 comentário:

ismael disse...

Todo ensinamento espiritual, exige reflexção, ou seja uma maneira de desenvolver a mente abstrata, o que não ocorre com a mente concreta, que só pode efetuar vôos curtos. A mente abstrata pode voar pelo infinito, porque tem asas de fogo, e não enfrenta limitações.
A verdade verdadeira, exige pagamento alto, ou seja muito sacrificio, lealdade, perseverança.
Empreendimento espiritual, a preço de liquidação, é voo em ave de asas quebradas.