sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

CASA RECÉM-CONSTRUÍDA

«O amor é sempre uma casa recém-construída. Um rendilhado de filigrana, uma flor de estufa. Uma fenda nessa construção tende a crescer e pelas frinchas da indiferença ou dessas discussões e egoísmos idiotas, pode vir abaixo a construção duma vida...

... Deus pode conceder-nos dádivas, mas o mérito de as receber e conservar tem de ser nosso e , muitas vezes, quanto mais felizes somos menos atenção prestamos à nossa felicidade."

Henrique Manuel, em "Mas Há Sinais..."

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

MULHER INSPIRADORA


A todas as mulheres, mas especialmente aquela que amo
e com a qual partilho a vida...

«Mulher, não és só obra de Deus;
os homens vão-te criando eternamente
com a formosura dos seus corações,
e os seus anseios
vestiram de glória a tua juventude.

Por ti o poeta vai tecendo
a sua imaginária tela de oiro:
o pintor dá às tuas formas,
dia após dia,
nova imortalidade.

Para te adornar, para te vestir,
para tornar-te mais preciosa,
o mar traz as suas pérolas,
a terra o seu oiro,
sua flor os jardins do Verão.

Mulher, és meio mulher,
meio sonho.»

Rabindranath Tagore

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A PALAVRA


«Como a flor exala o seu perfume e o sol espalha o calor dos seus raios, assim nós temos necessidade de irradiar pelo gesto e, sobretudo, por esse dom maravilhoso que é a palavra.

A palavra só tem sentido na medida em que sai da boca de um homem para entrar no coração de outro e ali fazer brotar a vida.»

Jean Vanier, em "Novas perspectivas do amor"

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

ESPÍRITO DE INFÂNCIA

"Amo-te e sinto-me desolado por te amar tão pouco, por te amar tão mal, por não saber amar-te."

Em realidade, quanto mais se acerca da luz, mais se descobre cheio de sombras. Quanto mais ama, mais se conhece indigno de amar. É que não há progresso em amor, não há perfeição que se possa um dia alcançar. Não há amor adulto, maduro e razoável.
Não há perante o amor nenhum adulto, apenas crianças, apenas este espírito de infância que é abandono, despreocupação, espírito da perda de espírito.

A idade adiciona. A experiência acumula. A razão constrói. O espírito de infância não conta nada, não amontoa nada, não edifica nada.
O espírito de infãncia é sempre novo, retorna sempre aos começos do mundo, aos primeiros passos do amor.

O homem de razão é um homem acumulado, amontoado, construído.

O homem de infância é o contrário de um homem adicionado sobre si mesmo: um homem retirado de si, renascendo em todo o nascimento de tudo. Um imbecil que joga à bola. Ou um santo que fala ao seu Deus. Ou ambas as coisas ao mesmo tempo.»

Christian Bobin, em "Um Deus à Flor da Terra»

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

SOMOS PARTE DE UMA MELODIA

«Tem quase o significado de uma religião esta ideia: assim que tenhamos descoberto a música de fundo, não estaremos mais perplexos nas nossas palavras e vagos nas nossas resoluções? Há uma certeza despreocupada na simples convicção de ser parte de uma melodia e de, portanto, possuir legitimamente um determinado espaço para ter direito a um determinado dever em relação a uma obra ampla em que o mínimo vale tanto quanto o máximo.
Não ser excedente é a primeira condição do desenvolvimento consciente e sereno.»

Rainer Maria Rilke

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

QUEM NOS TRARÁ A PRIMAVERA?


«Por vezes, como disse Goethe, o nosso destino parece uma árvore de fruto no Inverno. Ninguém diria que aqueles ramos hão-de ficar verdes e florir de novo, mas temos confiança, nós sabemo-lo.»

Depois de cada Inverno, nunca sabemos os ramos que em nós voltarão a florir, nem quais teremos perdido para sempre.
Nunca sabemos a duração de cada Inverno em nós: no coração de alguns parece durar eternamente.

Perguntamos: quem nos trará a Primavera? Quem nos devolverá a inocência dos pássaros e a frescura das manhãs?

É preciso gritar e deixar que a violência do grito rebente no coração, como as trovoadas rebentam na terra as águas de Maio.
É preciso essa dor de nos deixarmos abrir, não ceder à tentação da fuga.
Fechados, tornamo-nos estranhos a nós próprios, enlouquecidos e sós, perdemo-nos profundamente, morremos devagar.
É pelos outros que nos conhecemos e encontramos.
Construímo-nos em relação, num diálogo marcado pelo amor, pela dádiva, pela tarefa de realizar um projecto de vida em que o outro se constitua como referencial absoluto.

O amor é um acto de fé. Torna-nos vulneráveis e expostos, abre fendas por onde podem penetrar o sofrimento e a dor, ou o calor que traga de novo a Primavera ao nosso destino para que se cumpra, para que de novo a árvore rebente e floresça, para que cada fruto estale e o sumo inunde a boca que o tocar.»

Henrique Manuel, em "Mas há Sinais"

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O MILAGRE DE SERMOS OUVIDOS


Comunguei um dia de tal intimidade que cada palavra de um era recolhida pelo outro sem deturpação. Acontecia o mesmo com cada silêncio. Não se tratava daquela fusão que no início os amantes conhecem e que é um estado irreal e destruidor. Havia, na amplitude do laço que se criara, algo de musical e estávamos simultaneamente juntos e separados como as asas diáfanas de uma libélula. Por ter conhecido esta plenitude, sei que o amor nada tem a ver com o sentimentalismo que perpassa nas canções, nem tão pouco com a sexualidade de que o mundo faz a principal mercadoria - a que permite vender todas as outras.
O amor é o milagre de sermos ouvidos, mesmo estando em silêncio, e de ouvirmos em troca com igual acuidade a vida em estado puro, tão leve como o ar que sustém as asas das libélulas e se alegra com os seus bailados.

Christian Bobin, em ""Ressuscitar"

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

OS GESTOS SIMPLES DO AMOR LOUCO


«É sempre possível a um homem aderir ao campo das mulheres, ao riso do Deus. Basta um movimento, um único movimento semelhante aos que têm as crianças quando se lançam em frente com todas as suas forças, sem receio de cair ou morrer, olvidando o peso do mundo. Um homem que assim sai de si mesmo, do seu medo, desleixando esse peso de seriedade que é peso do passado, um tal homem torna-se como alguém que já não aguenta no lugar, que já não acredita nas fatalidades ditadas pelo sexo, nas hierarquias impostas pela lei ou o costume: um menino ou um santo, na proximidade risonha do Deus - e das mulheres...
Ninguém mais do que Cristo voltou o seu rosto para as mulheres, como voltamos o olhar para uma folhagem, como nos debruçamos sobre uma água de riacho para aí colher força e gosto por continuar o caminho.
As mulheres são na Bíblia quase tão numerosas como as aves. Estão lá no início e estão lá no fim. Elas dão Deus à luz, vêem-no crescer, brincar e morrer, depois ressuscitam-no com os gestos simples do amor louco, os mesmos gestos desde o começo do mundo, nas cavernas da pré-história e bem assim nos quartos sobreaquecidos das maternidades.»

Christian Bobin, em "Um Deus à Flor da Terra"

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

QUE FAREMOS COM O NOSSO CORAÇÃO?


«Os corações das crianças são orgãos delicados. Um princípio cruel neste mundo pode deformá-los e imprimir-lhes formas estranhas.
O coração de uma criança pode encolher de modo a ficar duro e rugoso como o caroço de um pêssego. Ou pode crescer e dilatar-se até se transformar em algo de insuportável para trazer dentro do corpo, facilmente irritado e magoado pelas coisas mais insignificantes.»

No peito de cada um de nós há um coração moldado pela vida. Há os que o guardam palpitante como um pássaro e os que o esqueceram por terem deixado de o sentir. Entre os chamados «corações de pedra» e «corações de manteiga», há tantos e tantos corações diferentes que de formas diferentes vão moldando outros!

Há corações incendiados e corações de gelo, corações de leão e corações de pássaro, corações de ouro e corações de chumbo. Há mesmo bons e maus corações.

Por vezes ouvimos dizer de alguém que «não tem coração». É preciso nunca acreditar. Pode estar tão apertado como um buraco negro, mas está lá. Talvez precise apenas de ser alimentado.

Há corações que transportam privações de séculos e parecem nunca atingir a saciedade e há os que transbordam como fontes inesgotáveis.

Que coração trazemos em nós? Que coração palpita dentro de quem cruza o nosso caminho em cada dia? Como atingirei o coração do meu irmão? E se numa qualquer guerra da vida alguém tiver perdido o seu, poderemos ajudar a procurar, a tentar encontrá-lo? E se o encontrarmos, saberemos transportá-lo nas mãos, sem o ferir, e pousá-lo no peito a que pertence?

Que faremos com o nosso coração?»

Henrique Manuel, em "Mas há Sinais"

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A BELEZA VEM DO AMOR


«A beleza vem do amor.
O amor vem da atenção.
A atenção simples ao simples,
a atenção humilde aos humildes,
a atenção viva a todas as vidas...
Beleza é algo de que Cristo nunca fala.
Só lida com ela, mas dando-lhe o seu verdadeiro nome: o amor.
A beleza vem do amor,
como o dia vem do sol,
como o sol vem de Deus,
como Deus vem de uma mulher esgotada pelo parto.»

Christian Bobin, em "Um Deus à Flor da Terra"

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

ENTREGA



Entrega sempre a tua beleza

sem cálculo, sem palavras.

Calas-te. E ela diz por ti: eu sou.

E com mil sentidos chega,

chega finalmente a cada um.


Rainer Maria Rilke,
in “O Livro das Imagens"

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A LUZ DA TUA MÚSICA



Não sei como cantas, ó mestre!
Escuto sempre em silencioso deslumbramento.
A luz da tua música ilumina o mundo.
O sopro de vida da tua música voa de céu em céu.
A torrente santa da tua música rompe qualquer obstáculo de pedra - e jorra.

O meu coração anseia por juntar-se ao teu cântico,
mas em vão se esforça por ter voz.
Eu poderia falar, mas a linguagem não se transforma em cântico, e , confundido,
choro em voz alta.
Ah! Tu fizeste o meu coração prisioneiro nas malhas sem fim da tua música, ó meu mestre!

Rabindranath Tagore

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

FELIZ E ABENÇOADO ANO NOVO!



Desejo a todos um Feliz, Abençoado e Iluminado Ano de 2010!!!
Que Deus vos ilumine com a Luz do Amor, da Fé, da Alegria, da Esperança, da Sabedoria e da Paz!

«Começar, estamos sempre a começar. Temos um Ano Novo pela frente, mas começar de novo não é começar outra vez, não é repetir alguma coisa, é começar de outro modo, com novidade. E o primeiro gesto devia ser o de agradecer esta imensa oportunidade.
Este ano será aquilo que fizermos dele: se cultivarmos uma atitude de egoísmo e individualismo, será assim; mas se nos comprometermos com a construção da paz e da justiça no mundo, então teremos um bom Ano Novo.

Não esqueçamos ao longo do ano que começa hoje que há uma imensa sabedoria em viver cada dia como se fosse o primeiro e há imensa felicidade em viver cada dia como se fosse o último. As duas coisas são possíveis ao mesmo tempo.»

(Vasco Pinto de Magalhães, em "Não há soluções. Há caminhos.")