sábado, 7 de julho de 2007

Hábito


O hábito torna-nos cegos às maravilhas do mundo - indiferentes e inconscientes perante os milagres quotidianos -, embota a força dos sentidos e dos sentimentos - torna-nos escravos dos costumes, mesmo tristes e culpados: suprime a vista, espanto, fogo e liberdade. Escravos, frígidos, insensatos, cegos: tudo propriedade dos cadáveres. A subjugação aos hábitos é uma subjugação da morte; um suicídio gradual do espírito.

(...)O hábito destrói a pouco e pouco o maior dom de Deus - a liberdade. Enquanto livres, somos feitos à imagem de Deus e capazes de nos aproximarmos, de nos reunirmos a Ele. Mas os hábitos, ao impedirem a evasão da mediocridade usual e os novos nascimentos, cancelam a semelhança divina, afastam o homem de Deus(...) Cristo promete o reino dos céus àqueles que se tornam pequenos - precisamente porque as crianças ainda não são afectadas pela camisa-de-forças dos hábitos.

Giovanni Papini - Relatório sobre os homens

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