terça-feira, 6 de novembro de 2007

Os meus livros II


O Riso de Deus, de António Alçada Baptista

Descrição da editora:"Ao acompanhar a vida de Francisco, o personagem central deste romance, ao longo das suas escolhas, da sua procura - ele que deliberadamente escolheu a via do sonho possível, da busca dos valores mais essenciais -, ao acompanhá-lo ao longo das sua deambulações pelo mundo, pela história, ao sabor dos acasos e encontros, e, muito especialmente, da intimidade de algumas mulheres cúmplices da mesma procura... "

Este é um dos livros que mais me tocou o coração e influenciou a construção da minha personalidade e lapidação da minha sensibilidade; que me ajudou a ver a vida com os olhos do amor, do afecto, da graça, da amizade sincera, profunda, verdadeira.

Faz alguns anos que o li pela primeira vez. Entretanto, já o reli vezes sem conta. Hoje, ao rele-lo, verifico que tenho uma compreensão e uma leitura diferentes de muitas das suas passagens. Creio que hoje compreendo com mais profundidade e intensidade essas passagens, porque vivi experiências, aprendi lições, li e reflecti sobre coisas que me abriram e alargaram a mente e aprofundaram a sensibilidade.
Para mim, hoje, essas passagens têm um significado que não tinham outrora; e o livro tornou-se ao longo dos anos uma chave para o apaziguamento de muitos fantasmas e inquietações, assim como para a compreensão de muitas coisas que se passam dentro e fora de mim. Alguém disse: «Não há no mundo livros que se devam ler, mas somente livros que uma pessoa deve ler em certo momento, em certo lugar, dentro de certas circunstâncias e num certo período da sua vida».
Hoje, sinto mais afinidade e correspondência com o mundo interior do autor. Tenho outra sensibilidade e maturidade. Creio que «...o proveito dos livros depende da sensibilidade do leitor; a ideia ou paixão mais profunda dorme como numa mina enquanto não é descoberta por uma mente e um coração afins
O Riso de Deus é um livro que fala a linguagem do amor, dos afectos. Um livro que nos conduz à descoberta de nós mesmos, do mundo que nos rodeia, do que nos une aos outros e do que dá verdadeiro sentido e signficado ás nossas vidas. Não é um livro com respostas prontas, mas repleto de questões que se nos colocam e fazem reflectir, procurar, duvidar, partir à descoberta.

Partilho convosco alguns trechos significativos:

"Acho que a grande criatividade é aquela que soubermos pôr nos nossos actos: fazer da nossa vida uma obra de arte: pôr na nossa vida a nossa individualidade mais identificada e com um verdadeiro sentido estético na relação com os outros e com o mundo, é a nossa grande criação."

"Amar é uma atitude de compreender e aceitar: é reconhecer os outros e respeitar a sua liberdade."

"Possivelmente, o amor continua a chamar-nos do centro do labirinto e nós anadamos ás voltas sem sermos capazes de o encontrar(...) e talvez seja necessário despojarmo-nos de muitas coisas e tornar a vestir as vestes da inocência para que o amor nos possa ser revelado."

"A letra de Deus nem sempre é decifrável e ninguém conhece a língua em que escreveu a alma humana.Tudo me leva a crer que as marcações que nos deram para o desempenho da vida passam ao lado do caminho por onde os nossos afectos poderiam fluir conforme o que está inscrito no mapa oculto do ser humano(...) Algumas vezes, até parece que a simplicidade emana do andamento da vida e que bastaria um pequeno gesto de espírito para passarmos para o lado de lá de tantas incomodidades que nos fazem viver como se tivéssemos calçado dois números abaixo da forma da alma."

"Procurei analisar o que são as minhas angústias. Creio que são assim uma espécie de reacção a uma forma incómoda que impede o meu desenvolvimento. Como se eu, periodicamente, tivesse que fazer um esforço para alargar o meu espaço, como se o estado do meu projecto interior não fosse cabendo no módulo que estou a usar. Depois de cada depressão sinto que qualquer coisa em mim ficou mais livre. É como se eu estivesse preso com várias cadeias e, depois de atravessar o túnel da depressão, conseguisse libertar-me de uma. Pergunto-me se cada homem não estará aprisionado pelos modelos de comportamento que herdou e se isso não atingirá a própria respiração da sua alma(...) As minhas depressões talvez sejam as minhas metamorfoses: é a maneira que eu tenho de passar de lagarta a crisálida. São etapas de libertação."

1 comentário:

IsaG disse...

Em primeiro lugar: descobri por puro "acaso" este blogue e adorei-o.

Segundo: Encontro por aqui muitas dicas para o auto-conhecimento e auto-estima que procuro, para que me veja livre das minhas muralhas, que encontro tantas vezes.


Alçada Baptista é um dos próximos escritores a descobrir.

Obrigada.